Carta 16
A Monsieur de M. a respeito da Eloquencia.
"Creyo que somos livres de todo o genero de obrigação para nos aplicarmos á Poesia, á Astronomia, ás Matemáticas, ou á pintura... (...) a respeito porem da Eloquencia não julgo o mesmo, e como todo o mundo fala, segue-se (...) que toda a pessoa está obrigada a cultivar as palavras. (...)
A Eloquencia he a virtude de todas as Artes e de todas as Profissoens... (...) O Imperador Numeriano não entendeo que a qualidade de Orador Excelente, deixava de ilustrar a de Soberano, e por isso sofreu que se lhe dedicasse huma statua debaixo do titulo do mais eloquente do seu seculo. (...)
A qualidade, e o louvor do eloquente faz honra a todos os homens desde o soberano ao Plebeo. (...) A grandesa da eloquencia consiste em que não póde ser despresada, e tambem em não poder ser combatida que por ela mesma.. Este he o principio que fez diser a Platão, que quando mostrava despresar a Eloquencia formava o seu elogio, pois que ela o favoreceo de termos admiraveis. (...) As mesmas Naçoens Barbaras do Universo que juraram a perda da Letras (...) não chegarão a despresar o nome da eloquencia (...) Não condenemos os que se aplicão e os que se esforção a adquerir uma virtude tão natural, e tão necessaria, a qual somente por ser virtude he que não se póde lograr, nem possuir sem incorrer ne despreso de todos os homens, e principalmente dos grosseiros, e dos mais barbaros."
Vienna de Austria, 6 de Junho de 1736
(Carta XX, Tomo I, pp. 267/8/9/270)
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No entender do autor a eloquência é primordial para todos, nobres e plebeus. É a virtude de todas as artes e profissões. Logo toda e qualquer pessoa deve "cultivar as palavras". Platão, mesmo quando mostrava desprezá-la, fazia o seu elogio. A eloquência "o favoreceu de termos admiráveis". Mesmo as nações Bárbaras que não prezavam as letras, a consideraram. Só a eloquência pode combater a eloquência. Por isso não se condene aqueles que se aplicam a estudá-la e a torná-la em si mesmo uma virtude natural. Precisamente porque é uma virtude tão necessária e natural é que não se pode possuir sem se incorrer na inveja, "no desprezo" dos outros homens, principalmente dos grosseiros e bárbaros. Nota-se nas suas palavras que o escritor talvez tenha sofrido por possuir esta virtude.
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