Carta 11
Ao Senhor D. Florencio Henriques Maldonado sobre a Reputação.
"Ainda que sou partidario da Reputação, e muito devoto por esse principio do glorioso S. João Nepomuceno, quero agora entender com V. M. que a Reputação não só he cousa pouca, porem que he verdadeyramente hum Fantasma. Não são os Minos, os Perseos, os Theseos, os Hercules, os Achiles, os Hectores, os Eneas, e todos os outros Heroes da Fabula, os que lograrão o aplauso da mais sublime Reputação? Sim senhor;... (...) Disem que alguns delles forão homens muy communs, e despresiveis.... (...) Os Mandricantes, os Sacripantes, e os Rodamontes não são tão nomeados, e conhecidos, como os Pompeos? He sem duvida. (...)
Agora dirá V. M. que mudo todas as cousas ao meu modo, e que critico hoje a mesma Reputação que deffendo sempre. Respondo a V. M. que os homens não estão sempre do mesmo parecer. Plutarco na vida de Cícero, disse que a estatua chamada Sphinx era de marfim, e nos seus Apopthegemas Romanos disse que a mesma estatua era de prata.
A Reputação he sempre para mim huma das figuras mais preciosas que a vaidade, e a soberba, ou que a rasão, e o juiso dos homens soube idear, porem como neste seculo parece que he necessario morrer de fome para alcançar a Reputação, redusindo-se os homens honrados a esqueletos, algumas veses poderá a Reputação ser huma peça de prata, e outras veses não será mais do que hum osso."
Vienna de Austria, 18 de Janeyro de 1738
(Carta IV, Tomo III, pp. 20/1/2)
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Que é a Reputação? Não existiram tantos heróis na antiguidade que beneficiaram dela sendo "homens muy communs, e despresiveis"? Ainda que seja seu partidário reconhece que a critica. Tal como Plutarco faz na sua literatura, quando diz ser a mesma estátua de Sphinx, uma vez, de marfim e outra, de prata. Mesmo que seja para si, sempre mais preciosa que a vaidade e a soberba, admite que no seu século para alcançar a Reputação é "necessário morrer de fome". Sendo que a Reputação, reduzindo um homem honrado a esqueleto, pode ser uma vez de prata, e outra de osso. Documenta esta Carta o século XVIII?
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