Nas Memórias das Viagens, I Tomo, publicadas em Amesterdam, em 1741, diz-nos Oliveira logo no "Prologo ao Leytor":"
«Que sejas amigo ou inimigo basta que sejas Portuguez para saberes que desde a idade de doze annos fui inclinado a escrever memórias (...) ouve hum agudo trilema de Plinio que te persuade a seres benevolo...» (p.4)
Ao chamar a atenção para as situações embaraçosas que vivia, recorre a Plínio para pedir ao leitor que seja benévolo, quer seja amigo ou inimigo, basta-lhe que seja português. Ele precisava de quem o ouvisse, e tivesse compaixão pela sua desdita.
Já então ele sentia que tinha inimigos, ao contrário do que acontecia quando vivia em Lisboa. No mesmo livro ele escrevia:
«Recebi ao mesmo tempo a triste notícia do falecimento do meu pai, e a honrosa insinuação do Conde de Tarouca(...) para ir tomar posse da sua secretaria, em que meu pai tinha servido.(p.4) No tempo mais aprasível do anno, no dia 19 de Abril pela manhã (...) troquei a formosa situação (dezassete anos que eu tinha servido a sua Magestade nos Contos do Reino) pela triste morada da Balandra (a balandra chamava-se Juffr. Anna, e era de Monsieur Bourguin) em que embarquey. (p.5) Em doze de Maio, logo pela manhã começamos a avistar as costas da Holanda. (...) Pelas quatro e trinta minutos da tarde fundeou a Balandra no Porto do Texel, que é uma ilha Setentrional da Holanda junto ao Golfo de Zuiderzée. (pp.26) (...) Eu tinha tomado a determinação de desembarcar no primeiro Porto.»(pp.28)
"Doze dias de permanência na Holanda bastaram-lhe para entrar em relações com gente grada. Em Haia visitou D. Francisco da Liz, riquíssimo judeu de origem portuguesa nascido em Inglaterra...(...) e o embaixador D. Luís da Cunha ... (...) De volta a Amesterdam, fez novos conhecimentos entre hebraicos: Jacob Henriques Medina, Abraão Cohen Rodrigues, pregador da sinagoga portuguesa, e Álvaro Nunes da Costa, cuja família servira oficialmente a corte de Portugal na Holanda." (13)
Quando da sua chegada, sentia-se que Cavaleiro de Oliveira ainda estava cheio de "confiança na sua boa estrela" (13). Não lhe desagradava "a perspectiva de uma carreira diplomática, para a qual não lhe faltavam a experiência burocrática e larga cultura e lhe sobravam o verniz social. (...) Ninguém como ele estaria preparado para aceitar os ensinamentos do experimentado diplomata em cuja «aula» esperava «beber como na fonte as sensatas postilas de Cícero, os retóricos documentos de Quintiliano, a certeza poética de Vergílio, a tradução fidedigna de Homero» (in: Cartas Inéditas, Biblos, 1935) "O seu entusiasmo ia ao ponto de invadir os domínios do ditirambo: Era «o nosso Cícero português, excedendo em muitas coisas ao Latino...» (13)
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Notas:
(13) RODRIGUES,Gonçalves, António, O Protestante Lusitano, Coimbra, MCML, pp.13,14,15.
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