Nesses dois anos seguintes vai viver sempre com problemas financeiros. Entretanto volta a contrair segundas núpcias com Maria Eufrosina de Puechberg. Vivem no campo uma temporada, perto de Viena, e o autor prepara para publicação os seus primeiros escritos. Regressa à Holanda, "paraíso de Filósofos" em 1740, para tentar reaver papeis, e editar os seus livros. Esta, "oferecia o espectáculo único em que a liberdade de imprensa, embora não absoluta, era, no entanto, uma realidade palpável. (...) A actividade editorial em língua francesa, então língua da Europa, era enorme...(15) Porém aí, conhece dificuldades e escreverá:
«Sou dos autores que escreve para os livreiros...» (15)
(...) Há neste País muitos autores que trabalham só para viver; e a fome e a sede são as musas que os inspiram. Saboreiam um pão por seis linhas de escrita e a sua cozinha assenta sobre o número de folhas de papel que garatujam.» (15)
Em fins de Março de 1741 empreende tentativas para que a esposa e o filho, do primeiro matrimónio, se reunam a ele. Se por um lado a mulher sofre a viver com os seus pais, longe de Oliveira, por outro lado as dificuldades motivadas pela penúria em que o marido vivia, faziam-na compreender a difícil situação.
"A Frei Agostinho de Lugano expõe em carta de 7 de Julho:
«Meu senhor. Não sou obstinado, nem preguiçoso, nem Filósofo depravado. Sei o que vale o bem, sei para que é o bom, e sei o que ele merece que se faça para o adquirir. (...) Não ha formosa sem senão, porém tem tantos Lisboa (...) O maior é deixarem ali morrer de fome a todos os homens de merecimento.» (in: Cartas Inéditas, 1942. Biblos, pp. 152/3)" (14)
Esta carta para Lisboa mostra o desespero com que Oliveira tenta reaver o dinheiro que tinha pago pelos documentos empenhados.
Em Setembro de 1741, Maria Eufrosina adoeceu. Mais tarde, as suas reminiscências colocam neste ano a sua "conversão". Oliveira tornar-se-á no "exemplo mais nítido de repúdio da tradição religiosa nacional antes do liberalismo." (16) Mesmo que ainda a defenda contra certos "argumentos reformistas" verifica-se que "o seu pensamento já aplica à fé todas as teorias da moderna filosofia." A presença do cepticismo francês é de fácil e conveniente verificação. Faz a apologia da Razão como fonte do conhecimento, «da liberdade de discorrer» das «leis sagradas e invioláveis da consciência.» (17)
"Em Outubro de 1742 participa a Barbosa de Machado a morte recente da mulher. (In: Cartas Inéditas) (...) Francisco Xavier terá encontrado nela o equilíbrio moral, a fonte de fortaleza que o anima na luta contra a adversidade (...) a ela confessa dever «as verdadeiras e úteis mudanças» da vida". (18) Tinham vivido pouco mais de um ano juntos.
Saiam do prelo as Cartas Familiares, o I Tomo editado em Amesterdam em 1741 e o II e III Tomo em Haia, em 1742. Em Portugal só seriam publicadas em 1855 e não na sua totalidade, porque foram muitas as Cartas proibidas. Vamos ler excertos de algumas delas, e torná-las nossas, na estima e respeito pelo autor.
A selecção das Cartas fala por si. Retirei as saudações de despedida, conservei os cabeçalhos e as datas. Procurei o Ser e o Devir nas epístulas, naquilo que considerei essencial ao tema escolhido Elas serão o retrato do ser moral, e de um tempo histórico e filosófico: - O século das Luzes - que, um português, Cavaleiro de Oliveira, viveu em Viena, Holanda e Inglaterra.
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Notas:
(15) RODRIGUES, Gonçalves, António, O Protestante Lusitano, Coimbra, MCML, pp.83, 86.
(16) Idem, in: Prefácio
(17) Idem, pp.147.
(18) Idem, pp.80,81.
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