segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Cartas Familiares de Cavaleiro de Oliveira

Esperava, possivelmente, que fosse o conde de Tarouca o pai que ele não teve. Um amigo e protector. Mas o conde já tinha junto de si o arquitecto Inácio Mauro Valmagini, que o ajudava na sua secretaria. Com ele, estava também um irmão, o abade Valmagini que se prestava a dar todo o apoio necessário. Estes irmãos italianos, de facto, já ocupavam o lugar para o qual Cavaleiro de Oliveira tinha sido indigitado. A cadeira de seu pai não estava vaga, essa era a realidade. Os italianos eram pessoas prestáveis ao conde, tinham um temperamento servil, que Oliveira abominava. A empatia de Tarouca não foi imediata nem favorável. Mandou-o aguardar umas semanas até tomar posse das funções. A sua intenção seria ir conhecendo o novo secretário. Quando lhe pareceu que o conhecia, negou-lhe a sua tomada de posse do cargo.
Entretanto, Cavaleiro de Oliveira começou a fazer vida de sociedade. Apresentava-se com o seu hábito de Cristo, tinha recebido algum dinheiro da herança de seu pai, e vivia na embaixada, num quarto junto da secretaria. Apresentava-se e assinava como secretário do embaixador, o que de facto não era, e vivia num mundo de ficção criado por si mesmo porque, segundo conta, todos o recebiam bem. Ia à ópera, ouvia concertos de boa música e convivia com a mais alta nobreza. Algumas dessas relações poderão ter sido mais do que simples amizade como, por exemplo, a da  Princesa da Valáquia. Com ela despendia quantias impróprias para a sua situação indefinida. Foi padrinho de uma filha dos príncipes e, em casa de estes compadres, viria a ficar quando o conde de Tarouca lhe deu ordem de regresso a Portugal.
Se o comportamento de Oliveira não agradou ao conde de Tarouca, o embaixador seria, igualmente, uma verdadeira desilusão para o filho de José de Oliveira e Sousa. Todos os sonhos da sua vida se desmoronavam. O conde jogava a dinheiro e tinha dívidas avultadas. O seu filho pertencia, por casamento, à família do Imperador e era à corte de Viena que servia.
Oliveira vem a verificar que os interesses de Portugal não estavam devidamente salvaguardados e que, havia documentos da embaixada que tinham sido empenhados. Na posse deste segredo ele torna-se testemunha dos desmandos deste nobre, de famílias poderosas no reino. "A casa de Alegrete recebera o nome do conde aureolado de Glória e determinara manter essa glória em incorrupta limpidez. (...) Contra Oliveira se empregariam todas as armas empeçonhadas da grande casa ofendida." (14)
Entretanto, Oliveira, com boas intenções como o vão comprovar as suas Cartas, pagou em Viena dez mil trezentos e oitenta cruzados, para ter na sua posse os documentos de Portugal, e desloca-se a Amesterdam para reaver a «Cópia da secretaria do Conde de Tarouca» que estava penhorada pela quantia de quarenta cruzados.
O conde de Tarouca morre subitamente, a 29 de Novembro de 1738, e Oliveira, na esperança de se reabilitar perante o Rei, de todas as calúnias sofridas, escreve-lhe:
"A minha razão me guia, e a minha justiça me tem sustentado" (14)
Como não obtém resposta para as esperanças de vir a obter o seu cargo que, por direito lhe pertencia, nem o dinheiro que tinha sido despendido, vai escrever uma carta a sua mãe que segundo António G. Rodrigues é a prova mais evidente da sua inocência. Nela "latejam todas as cordas da sinceridade e da piedade filial, duvidar da boa-fé desprevenida, da honestidade fundamental que presidiu aos actos para os quais Francisco Xavier de Oliveira pedia a aprovação Régia, não é possível." (14)
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Nota:
(14) RODRIGUES, Gonçalves, António, O Protestante Lusitano, Coimbra, MCML, pp.32, 40, 42,45.

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