O poeta era o centro das festas e reuniões. Imprescendível na côrte, e aos grandes generais, que em campanha se faziam acompanhar dos melhores poetas ou aedos. Eles, para além de honra e glória que lhe tributavam com os seus versos, e de cantarem as suas façanhas e actos heróicos, também eram motivo de olvido das dores das batalhas, quando estes heróis depunham a espada. Esta era então substituída pela pena do poeta. Aqueles, que como Anfião, segundo a mitologia, teria movido, com os sons harmoniosos da sua lira, as pedras para a construção das muralhas da cidade de Tebas. Ou, à semelhança de Anfião, o poeta mítico Orfeu que conseguira amansar as feras com a suavidade do seu canto. Teria mesmo aplacado Cérbero, monstruoso cão de três cabeças, e as próprias Fúrias, aquando da sua descida aos infernos para trazer de novo à vida sua esposa Eurídice.
Isto mesmo podemos conferir em Cícero quando in «Pró-Archia», diz para a assistência: "Ninguém é, na verdade, tão avesso às Musas que se não resigne a confiar à poesia o pregão eterno dos seus feitos." E refere Temístoles, o "insigne varão de Atenas", general que venceu a batalha naval de Salamina (480 a.C.). Também Camões, como Cícero, nos fala deste estadista em «Os Lusíadas»:
"E diz que nada tanto o deleitava
Como a voz que os seus feitos celebrava"
(Canto V,93,7-8)
Vai longa a enumeração de quanto os antigos consideraram importante a pessoa e o engenho do poeta. Ele era digno do panteão do herói. Tinha lugar de estima na sociedade. Como se tivesse voz profética. Mas se assim foi na Antiguidade Clássica, o mesmo parece não ter acontecido ao longo dos tempos.
Sabemos como Luís Vaz de Camões recebeu de D. Sebastião uma mesada que permitiu um fim de vida pobre e austero. E a este Rei tinha dedicado e lido o poeta a sua obra bela e imortal. No entanto, quando parte para Alcácer-Quibir, D. Sebastião, também como Alexandre ou Temístoles, leva na sua comitiva real, Diogo Bernardes, o seu eleito poeta. Ele admirava-os. E aqueles que não os admiram? Para esses, que indignos são destas almas eleitas, já o fragmento da lírica arcaica dava resposta:
"Quando morreres, hás-de jazer, sem que haja no futuro memória de ti nem saudade. É que não tiveste parte nas rosas de Piéria. Invisível, andarás a esvoaçar no Hades, entre os mortos impotentes." (63)
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