(continuação)
Toda esta variedade de terras exóticas e de plantas diferentes das que existiam na Europa vai alargar os conhecimentos do homem, que vai verificar pelos seus próprios olhos que, sendo diversa a raça humana, é una e que os africanos, ou os índios, os orientais ou os americanos, não têm nada de diferente como até aí tinha sido manifesto através de autêntica literatura mítica, em que se atribuiam aos homens de outras paragens características não humanóides, e as descrições mais bizarras do reino da imagística mais completa e complexa.
Para além deste aspecto, a ciência náutica pôs à prova as suas descobertas: o nónio de Pedro Nunes, a vela triangular ou latina, o leme fixo, a caravela, a bússola, o astrolábio, as cartas de navegar, cada vez mais aperfeiçoadas, permitiram desmentir aquilo que se pensou até ao séc. XV: a terra não era plana, tendo por centro a cidade de Jerusalém. A expedição de Fernão de Magalhães (1519 a 1522) provava a esfericidade da Terra. As teorias de Copérnico estavam certas. Sendo o pioneiro da modernidade, Copérnico tentou, combatendo as teorias anteriores, e apresentando a sua, restaurar "a harmonia cesleste" voltando à pureza grega. "Se, por um lado regressa a Platão, vendo nas matemáticas a harmonia do universo, por outro eleva o mundo sublunar à categoria celeste, aproximando, assim, os dois mundos. (...) A terra, sua descrição e movimentos, estão a partir de então submetidos à Matemática. Esta profunda mudança, esta unificação (pela primeira vez pode falar-se em universo) tem claras raízes cristãs. Rompe com o dualismo céu-terra e devolve o centro do universo ao Sol. São palavras suas: 'Mas, no meio de tudo, está o sol'. Porque, quem poderia colocar neste templo formosíssimo esta lâmpada em outro ou melhor lugar que esse, desde o qual pode, ao mesmo tempo, iluminar o conjunto? Alguns chamam-lhe a luz do mundo; outros, a alma ou governante. Trismegisto chama-lhe o Deus visível, e Sófocles, na sua «Electra», o que tudo vê. Assim, na realidade, o sol, sentado no trono real, dirige a ronda da família dos Astros".
Kepler e Giordano Bruno seguirão as teorias de Copérnico. Kepler compara a 'máquina celeste'não a um organismo divino, mas a uma obra de relojoaria.
"Assim, como naquela, toda a variedade de movimentos são produto de uma simples força magnética, também no caso da máquina de um relógio todos os seus movimentos são causados por um simples peso. Demonstro, aliás, com esta concepção física deve apresentar-se através do cálculo e da geometria." (carta a Herwart, 1605). (21) Para completar a sua força magnética de atracção, precisava Kepler da lei da inércia, que só Galileu estabelecerá, matematizando por completo o universo. Ele próprio escreverá a Cristina de Lorena, em 1615: "Quem se atreverá a pôr limites ao engenho dos homens?"
Serão estes homens que verdadeiramente estabelecerão a modernidade, juntamente com o grande filósofo Descartes, iniciando uma nova época na história do pensamento, que se caracteriza pela autonomia absoluta da Filosofia e da Razão. "A afirmação da autonomia da Razão, como fundamento do saber, não é exlusiva do Renascimento, mas a partir deste, de todo o pensamento moderno, que está em íntima ligação com o triunfo da ciência moderna."
Ciência esta que se deve a todos estes homens, entre eles os Portugueses, que ousaram ousar, descobrindo novos mundos, colocando-se como seres supremos contra o póprio poder da igreja, instituíndo-se eles mesmos, como o sol de Copérnico, centro irradiador de progresso e de confiança na própria capacidade humana, através da substituição do Crer pelo Ver da experiência feita.
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Notas:
(21)- Martins, Oliveira, «História de Portugal», Guimarães & C.ª Editores, 17ª ed., Lx., 1977.
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