terça-feira, 1 de maio de 2012

Ancestrais - O Berço Africano

Quando os viajantes estrangeiros chegaram no século XV, ficaram surpreendidos com as construções sofisticadas que encontraram, dos pôlderes edificados no litoral, para cultivo do arroz de cultura intensiva em terrenos alagados. Entre o Gana e Camarões cultivava-se o inhame e, em Angola e no Congo, o milhete e o sorgo e a banana no Congo. Lentamente, mas com perseverança ímpar, estes agricultores tinham penetrado nas florestas e tornaram-se em terrenos habitáveis e de cultivo, com a caça ao antílope e à mais diversa fauna em que eram muito ricos. Desde as pradarias do actual Camarões até à curva do Niger possuíram a terra com o seu labor. Mais ou menos por esta altura os "ancestrais dos Iorubás e dos Ibos da actual Nigéria, colonizaram simultaneamente nas bordas do sul a floresta e as savanas. Mas na mata cerrada, onde habitavam os 'espíritos maus,' só se aventuravam os heróicos caçadores ou curandeiros." Formavam-se múltiplos grupos étnicos que se diferenciavam entre si na língua e na cultura. No entanto, colonos de diversas origens que se estabeleceram nas falésias de Bandiagara, no Mali, tinham estabelecido uma cultura dogon com especificidade própria. Outros falantes de banto oriental, da borda nordeste da floresta equatorial, misturaram-se a cultivadores de cereais falantes da língua saaro-nilótica, originando uma cultura complexa. Ao norte do continente, na borda oriental de montanhas de difícil acesso como Xoa, na Etiópia, esses grupos falavam língua banto oriental. Ao sudoeste, para além da floresta, nas savanas da actual Angola, desde 1400, tinham-se concentrado populações ao longo dos vales fluviais que avançaram até às regiões mais altas do monte Mitumba, entre o Ruanda e o Congo.
Todo este enorme esforço não se conseguiu sem o ataque impiedoso de diversas doenças que sofriam, através do contágio dos mais variados parasitas. Doenças crónicas que deformavam as populações, originavam muitas dores e que ficaram retratadas nas imagens de terracota deixadas pelos artistas iorubás da cidade de Ifé. A malária era das mais mortais, pois ceifava muitas das crianças recém-nascidas. "A mosca tsé-tsé, portadora de tripanossomíase - parasita da doença do sono - infestava, por sua vez, inúmeras terras ribeirinhas da África central" e era em geral crónica. Conhecia-se também aqui, uma forma benigna de varíola. O consumo de água imprópria originava as mais diversas doenças e sofrimentos às populações. Um dos vermes conhecido como da Guiné, nematóide que se instalava sob a pele,- matacanhas, como se chamava em Angola, - também era causa frequente de muito sofrimento.
A fome também constituía um dos obstáculos ao crescimento das populações."Durante o século XVI, Angola sofreu uma grande fome que se repetia a cada sessenta anos." Esse fenómeno, atribuído por vezes a pragas de gafanhotos, levavam os pais a venderem os filhos e a deixarem escravizar-se para não morrerem de inanição. Os grandes períodos de seca provocaram grandes mortandades. Em Cabo Verde, três fomes, entre 1773 e 1866, mataram 40% da população.
Por estas razões, um dos provérbios dos iorubás sublinhava que "sem filhos, estás nú." No Benim, um dos primeiros viajantes sublinhava que "a mulher fértil era muito considerada e a estéril era desprezada." A sua fecundidade tornar-se-ia num dos temas recorrentes da arte. Mesmo não havendo dados fiáveis, a esperança de vida ao nascer, desde o século XVI ao XVIII, era de 25 anos. Testemunhos, diminutos, contam que as mulheres casavam logo que pudessem ter filhos e que, em média criavam seis filhos, os quais amamentavam até aos quatro anos. O sistema de poligamia era tido como natural pois, o ter várias mulheres e muitos filhos significava ter braços para o cultivo das terras. "Amplas linhagens familiares simbolizavam todo o prestígio de um homem." A competição pelas esposas originou muitos conflitos e o casamento teve as mais diversas formas, desde o rapto, ao pagamento de dotes à família da mulher.
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(continua)   

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