terça-feira, 8 de maio de 2012

Ancestrais - O Berço Africano

A terrível batalha que se travou entre Mpanzu, o candidato tradicionalista e o candidato cristão, D. Afonso, pela posse do reino, em 1506, traçou o destino das relações da África com a Europa. D. Afonso I, admirador das ciências e técnicas europeias abriu o Congo aos estrangeiros durante o seu reinado, de 1506 a 1543, e fez do catolicismo a religião do Estado. A estratégia Lusa, segundo os autores, consistia em europeizar a região através da política e religião. Assim, o filho de Afonso I, Henrique, foi consagrado bispo de Útica, por Leão X e de 1518 a 1536 dirigiu a diocese local. É evidente que , D. Afonso I, o rei do Congo, combateu os animistas "queimando e destruindo velhos altares e até, enterrando viva, uma prima que não cumprira as suas ordens." Os congoleses recebiam presentes sumptuários oferecidos pelos portugueses: 'cavalos, asnos, lebres, galgos, falcões, espelhos dourados de Veneza, capas pespontadas de seda, lenços de cetim, chapéus, louças, cadeiras forradas,' etc. etc.
A desmedida ambição dos lucros fáceis, graças ao comércio de escravos e de outros produtos, veio sobrepor-se às intenções iniciais. Quando D. Afonso I morreu, tinham-se frustrado as suas tentativas para modernizar o reino do Congo. Os seus sucessores deixaram que o reino definhasse. As sucessivas guerras com o vizinho Ndongo e uns tios do lago Malebo, entre 1575 e 1576 levaram à desorganização total que permitiu o avanço dos Jagas. Cadornega, considerou-os como profissionais de guerra ao manusearem as machadinhas afiadas, para matar os inimigos. "Alencastro compara-os a «um rolo compressor multiétnico» organizados em torno de quilombos, e que, graças ao ferro de fundição, fabricaram azagaias, pontas de flecha  mortíferas com que sacudiram o Congo e Angola a partir do século XVI."
Os Jagas, segundo um estudo de Joseph Miller, eram oriundos da Lunda, cujo chefe Tshinguli, a tinha deixado para fundar um novo estado perto da fronteira. No século XVI, logo no início, havia um segundo reino, de Tshinguli, instalado entre os rios Luando e Jombo, no actual Songo. Os habitantes chamavam-se a si mesmo de imbangalas. "Acompanhado de outros chefes - os  macotas - Tshinguli encontrou o apoio dos quiocos." Os portugueses tiveram os primeiros contactos com estes povos na embocadura do rio Cunene e chegaram a estabelecer uma aliança. Quando Paulo Dias de Novais "fundou" a colónia em 1579, com o objectivo de ampliar o tráfico de escravos, vê-se confrontado com a exigência da metrópole, em 1579, de cumprir os seus contratos de colonização. O rei de Ndongo mandou matar todos os portugueses que estavam no seu reino, e deu-se início a uma guerra que iria durar até 1671.
Entre 1584 e 1585 os Jagas estavam em Benguela e continuariam a sua saga. De 1612 a 1617, comandados por Kasange, ocupam grande parte do reino. Houve, até  1618, um tratado de paz, entre Bento Cardoso, governador de Angola, e o jaga Kulashingo ou Kasange, como era mais conhecido. Por esta altura dá-se a imigração imbangala para as terras do rio Kuango. Este reino, vai consolidar-se nesta região nos anos seguintes.
Entre 1622 e 1623 foi assinado um tratado de paz com o rei Ndongo. Ele fez-se representar pela sua irmã Nzinga Mbande, ou Jinga. Baptizada com o nome português de Ana de Sousa ou de Luanda, Jinga, mostrou-se inimiga dos portugueses, e comandou um partido antilusitano. Quando o irmão morreu, Jinga, que era filha de uma escrava, veio a ser regente e depois rainha. Para o conseguir travou lutas por toda a parte, porque havia mais sucessores ao trono. Entre estes, estava um macota Ari Quiluange, que foi apoiada pelos portugueses, mas Jinga venceu tudo e todos, ao apoderar-se do reino da Matamba, tendo feito escrava sua, marcada a ferro, a rainha deste vasto território.
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(continua) 

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