sábado, 19 de maio de 2012

II - Estácio de Sá - A fundação da cidade do Rio de Janeiro

Villegagnon não foi capturado porque tinha regressado a França em 1559, para conseguir reforços. Henrique II já se tinha desinteressado do Brasil e pouco depois vinha a falecer. O rei que lhe sucedeu, Carlos IX, não ajudou Villegagnon e  este nunca mais tornou à América. "O sonho da França Antárctida" tinha-se desvanecido perante a coragem dos portugueses. Estácio de Sá foi ferido na face com uma seta envenenada e veio a falecer um mês depois.
Mem de Sá decidiu mudar a cidade para um local mais afastado da barra, para um outeiro a que chamaram "Monte do Castelo", e onde se levantou uma fortificação.Construiu-se de seguida a igreja matriz, o colégio dos jesuítas, a Casa da Câmara, alfândegas, armazéns, etc. Anos depois o próprio Padre Anchieta iniciou a construção dum grande hospital que mais tarde teria o nome de Santa Casa da Misericórdia. O governador doou terras à volta do Rio e contemplou o índio Araribóia, amigo e colaborador dos portugueses. À Companhia de Jesus ofereceu um terreno para construir o 3º colégio onde em 1570 viria a morrer o P. Manuel da Nóbrega.
A sua boa relação com os jesuítas permitiu que a educação e a instrução progredissem, pois as cartas de D. Catarina a Mem de Sá autorizavam que se ensinasse latim num curso que reabriu em 1564, e além do latim estudavam a Eneida. Durante o Século XVI não houve outros mestres, pois onde houvesse uma casa de jesuítas logo se abria uma escola, diz-nos Serafim Leite.
Em 1568 Mem de Sá partiu para a capitania do Espírito Santo, mas antes de partir nomeou capitão e governador do Rio de Janeiro o seu outro sobrinho, Salvador Correia de Sá. No mesmo ano era aclamado o rei D. Sebastião.
Organizada a colónia, em 1570, Mem de Sá pediu para regressar à metrópole, mas o governador que o veio substituir sofreu um ataque de corsários franceses, Sória e Capdeville, e foram mortos quase todos os que faziam parte da expedição, inclusive 40 missionários. Este desastre fez com que tivesse de continuar mais dois anos no governo. Veio a falecer a 8 de Março de 1572 sem voltar à sua terra natal.
Pode-se, talvez dizer que a Mem de Sá ficou Portugal a dever a posse da colónia. Teria sido o "Afonso de Albuquerque do Ocidente", como lhe chamou Luís Norton.
Corria o ano de 1576 quando foi impressa a História da Província de Santa Cruz, de Pêro Magalhães Gândavo e, em censos da época, o Brasil tinha, incluindo os escravos, cerca de 57.000 habitantes. Nesse mesmo ano instituía-se o monopólio da venda do sal a favor da coroa. O sal que, nessa altura, era uma verdadeira moeda de troca, uma vez que ia de Portugal para a Holanda e para outras partes dos continentes, fazia parte das imensas riquezas territoriais deste país de aquém e além-mar.
O rei D. Sebastião encontrou-se com Filipe II no Santuário de Guadalupe e propôs-lhe uma acção militar conjunta no norte de África. A cobiça dos espanhóis por Portugal incentivou esta jornada fatídica. Não fizeram acordo, mas os apoios foram concedidos. Filipe II, neto de D. Manuel I, sabia que não havendo herdeiro ao trono, poderia reclamar para si a coroa de Portugal. Em 1577, o cardeal D. Henrique não aceita a regência e discorda da jornada marroquina. Morreria em 1580, quando foi aclamado rei D. António Prior do Crato. Seguiram-se as lutas pelo poder que conduziriam à anexação de Portugal pela coroa de Espanha. Filipe II deu início à dinastia filipina em 1581 como Filipe I de Portugal. O desastre de Alcácer-Quibir iria trazer muitas desgraças ao território metropolitano e ultramarino. Tinha-se perdido grande parte da melhor nobreza portuguesa e alguns foram resgatados por moeda espanhola, quantias que tornariam os fidalgos devedores, da própria vida e honra militar a Filipe I.
Iniciava-se um novo dealbar que, novamente, esqueceria por longos períodos as necessidades do Brasil. Voltaram os estrangeiros às suas costas e a cobiça era redobrada. Todos os países que estavam em guerra com o "império onde o sol nunca se punha", sentiam-se legitimados em atacar, saquear e conquistar território do inimigo espanhol. Os Holandeses iriam possuir grande parte do território brasileiro durante mais de vinte anos e em África, conquistaram Luanda, e outras partes do território, por quase oito anos, onde negociavam abertamente com as populações. Só em 1631 é que Filipe III ofereceu 500.000 cruzados da sua fazenda para a constituição duma esquadra de socorro ao Brasil. É nessa situação política que se irá desenrolar a gesta dos Sás.
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(continua)   

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