sexta-feira, 18 de maio de 2012

I - Mem de Sá, Governador Geral do Brasil

Joaquim Veríssimo Serrão diz-nos que o homem que se instalou na baía do Rio de Janeiro, nos finais de 1555, procurando formar uma colónia como núcleo de uma futura França ultramarina, constitui uma das figuras mais apaixonantes do Séc. XVI.
«Homem de toga e espada» foi um universitário de formação, e um militar de temperamento. Um seu biógrafo, Paul Gaffarel, definiu-o como um «homem universal», voltado para todas as realidades da vida, com um espírito rico e multiforme: «soldado, marinheiro, diplomata, historiador, erudito, agricultor, e mesmo filósofo» - é o retrato daquele que se qualificou como o «roy d'Amerique».  
Villegaignon fora colega de João Calvino nos estudos gerais parisienses. Quando a sua estrela estava a declinar, para reaver o antigo prestígio ergueu o ousado projecto de fundar, na terra do Brasil, uma nova dimensão para o reino francês.
Convenceu Coligny, e ao cardeal de Lorena prometeu o respeito pela doutrina da igreja católica. Para Coligny, o aventureiro abrira o coração à nova doutrina; para o cardeal de Lorena era um católico sem mácula.
Assim conseguiu obter as graças de Henrique II, que lhe deu dois navios armados e 10.000 francos para as despesas e o material de guerra que se julgava suficiente para a instalação em terra firme. O rei, para não abrir um conflito com Lisboa, ignorava oficialmente a empresa, uma vez que estava em estado de guerra com Filipe II. Não se avizinhava ainda a paz de Chateau-Cambrésis, que só seria assinada em 1559. (1)
Mem de Sá era um jurista, licenciado no ambiente cultural de Salamanca, que exercia o cargo de desembargador da Casa de Suplicação e que, desde 1532, fazia parte do Conselho real. A carta de nomeação para o governo do Brasil concedia-lhe o título de «fidalgo de minha casa e do meu concelho». A este "fidalgo" não faltaria brio e coragem para enfrentar o «roy d'Amerique».
Chegado ao Brasil em meados de 1558, encontrou os índios em completa rebelião, a peste grassando por toda a colónia e os colonos em constantes lutas com os religiosos. No entanto, encarou serenamente a situação e tomou medidas enérgicas. Era resoluto sem ser violento, justo e dotado de muita inteligência e cultura, e conseguiu harmonizar as autoridades civis e religiosas.
Aliás, uma das características da família dos Sás foi a constante harmonia com os religiosos e um especial saber viver com as populações. O P. Manuel da Nóbrega, grande figura humanista, o P. Anchieta e, mais tarde, o P. António Vieira, foram figuras determinantes no aconselhamento e constante ajuda para estes governantes.
Logo em 1559 conseguiu um alvará a autorizar a importação de escravos do Congo. Manuel da Nóbrega lamentava-se: Esta gente do Brasil não tem mais conta que com seus engenhos e ter fazenda, ainda que seja com perdição das almas de todo o mundo. (Leite, 1955:346) Também chegou, nesse ano, uma armada comandada por Bartolomeu de Vasconcelos da Cunha, que permitiu a Mem de Sá executar o plano de expulsar os franceses. A Regente escrevia de Lisboa ao novo governador para que este não tardasse a fazer uma frota «e com a brevidade possível fosse ao Rio e lançasse os franceses dele».
Auxiliado pelo bispo D. Pedro Leitão e pelos Jesuítas estabelecidos em S. Vicente (onde Nóbrega tinha ido recrutar índios combatentes), reuniram-se à esquadra na entrada do Rio e atacaram o forte de Coligny. O combate durou três dias, findos os quais os franceses fugiram para o continente deixando cem prisioneiros nas mãos dos portugueses. Convencido que os franceses não voltavam, arrasou o forte e tomou a ilha de Sergipe. Regressou a S. Vicente a 31 de Março de 1560, e enviou cartas ao reino para insistir na colonização do Rio de Janeiro. 
Logo que o governador se retirou, os franceses voltaram ao litoral, porque contavam com o apoio dos índios Tamoyos, e recuperaram Sergipe, reconstruíram o forte, fizeram mais fortalezas e ali ficaram.
Mem de Sá, quando soube, comunicou para Lisboa e entretanto pediu reforços às capitanias para poder expulsar os franceses definitivamente. Visitou o colégio de S. Paulo e conseguiu que os colonos de Piratininga se mudassem para as suas imediações. Ao praticar uma política de cooperação entre padres e colonos, dava início a um maior desenvolvimento do Brasil.
Todo o tempo que lhe sobrava das lutas com os índios, (Goitacás, Adymorés) empregava-o a fazer progredir os trabalhos agrícolas e a cultura da cana-de-açúcar, estabelecendo numerosos engenhos. Desenvolveu as capitanias do Espírito Santo, Ilhéus e Porto Seguro e contribuiu para o desvendar dos sertões enviando exploradores em busca de ouro e outros minerais preciosos.
As primeiras bandeiras foram chefiadas por Vasco Rodrigues Caldas, Braz Cubas, António Dias Adorno e António Ribeiro. Trouxeram ouro e pedras preciosas mas os resultados destas expedições foram fracos.
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(continua)

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