quinta-feira, 17 de maio de 2012

I - A Família dos Sás. Mem de Sá, Governador-geral do Brasil

Os textos estudados sobre Mem de Sá não são unânimes quanto à sua filiação. Um diz que era filho legítimo do Cónego da Sé de Coimbra, Gonçalo Mendes de Sá, e de Inês de Melo e que seriam quatro filhos reconhecidos, conforme «Carta Régia  de el-rei D. João II,» (1) dos nove que tiveram. Outro diz que o pai não o legitimou, como aliás o terá feito com outros seus oito filhos, num total de treze. (2) Teríamos que pesquisar os documentos para tentar esclarecer estas divergências, mas pensamos que não cabiam no contexto deste trabalho. Sabemos que o Cónego, seu pai, provinha dos Condes de Caminha, - cujo primogénito capitaneara a armada do descobrimento de S.Tomé -, e dos Sás da Anadia.
Descendia Mem de Sá de homens que já tinham realizado feitos heróicos em gerações passadas. O seu sangue era o mesmo de João Rodrigues de Sá, o Sá das Galés, que tinha recebido este cognome porque venceu os Castelhanos no Tejo, em 1385. Mesmo ferido quinze vezes, conseguiu afundar os navios inimigos. Combatente em Aljubarrota, viria a ser embaixador junto do papa Bonifácio IX. (1)
O poeta Sá de Miranda, irmão de Mem de Sá, perdeu o seu primeiro filho em Ceuta na luta contra os mouros, e, num combate em Tetuão, morrera um seu outro sobrinho João Rodrigues de Sá (que tinha o mesmo nome do seu antepassado). O seu próprio filho, Fernão de Sá, viria a morrer numa batalha contra os índios "tamoios," que se tinham revoltado em Espírito Santo. Mem de Sá, com a coragem que lhe era conhecida, aparelhou uma frota e entregou o comando a seu filho, que aí morreu.
Por fim, seria o seu sobrinho Estácio de Sá, fundador do Rio de Janeiro, que viria a morrer na batalha contra os franceses, pela libertação daquela cidade.
Salvador Correia de Sá, Martim de Sá, Salvador Correia de Sá e Benevides, e outros Sás iriam continuar a lutar pelo Rio de Janeiro, e, pelos séculos, a deixar o seu nome vivo na história do Brasil e de Portugal. O filho de Salvador Correia de Sá e Benevides, Martim Correia de Sá, primeiro Visconde de Asseca, foi combatente nas batalhas de Ameixial e Montes Claros, e acabou por falecer em Setúbal em 28 de Outubro de 1678, em consequência de graves ferimentos recebidos "no assalto a Badajoz" (3) 
Em 1710, quando da nova invasão francesa ao Brasil, vamos ainda encontrar um descendente desta família, Martim Correia Vasqueanes, que era mestre-de-campo no Rio de Janeiro, e morreu no seu posto, em combate. Na continuada pesquisa, iremos deparar com a referência a um manuscrito de um seu familiar, que nos deu gosto registar e que transcrevemos:
«Luís Corrêa de Sá, Governador Capitão General da Capitania de Pernambuco em carta de vinte e quatro de Agosto de mil setecentos e cinquoenta representou a S. Mag. por este Conselho a grande opersão em que se acha aquela prasa, e em consequência toda aquela capitania com a extraordinária falta de dinheiro, procedida de haver muitos annos q. ali se extinguio a Caza da Moeda, e de se ter extraído no Curso deles hua grande parte da moeda provincial no comércio dos gados e couros do Certão de donde não tornava a girar naquela Prasa o produto que dali se navegão para o Rio de Janeiro, e para a Bahia hia todo reduzido a dobras de seis mil, e quatrocentos reys, nem uma sô aparece na terra para ouzo cumum por q. se guardão para os pagamentos dos géneros q. hião deste Reino» ( Providência para que o Conselho da Fazenda mande fazer moeda provincial de prata, ouro e cobre para ser remetida na frota de Pernambuco - 2 de Novembro de 1752) (Documento nº 781, caixa nº 2, Rio de Janeiro, A.H.U.) (4*)
"(...) Os Correia de Sá, viscondes de Asseca, viram-se por decreto de 1 de Junho de 1753, recompensados de três mil cruzados de renda para sempre, de terras que possuíam no Rio de Janeiro, e os momarcas jamais hesitaram em prestar a tão ilustre descendência, homenagens no avivamento dos feitos do seu maior avoengo." (4)
Verificamos assim que, apesar de trágica, "a dinastia dos Sás no Brasil" iniciou-se com Mem de Sá, ele sim um verdadeiro 'avoengo.'"
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Notas:
(1) In: MARTINS, Francisco José da Rocha, Vida de Salvador Correia de Sá Benevides, capitão mor do Rio de Janeiro e libertador de Angola, Separata das «Memórias», (Classe de Letras-Tomo V) Academia das Ciências de Lisboa, 1948, pp.3 e 6.
(2) In: SERRÃO, Joel, direcção de, Dicionário de História de Portugal, Porto, Livraria Figueirinhas, 1999, Vol. V, pp.397.
(3) SAMPAIO, Albino Forjaz de, Salvador Correia de Sá e Benevides, O Restaurador de Angola, Lisboa, Divisão de Publicações e Biblioteca - Agência Geral das Colónias, 1936, pp.20.
(4) CORTE-REAL, João Afonso, SALVADOR CORRÊIA DE SÁ E BENEVIDES, De Governador das Capitanias do Sul do Brasil a Restaurador de Angola, Braga, Separata do nº 17 da Revista «Independência», da Sociedade Histórica da Independência de Portugal, 1957, (4*) Providência para que o Conselho da Fazenda mande fazer a moeda provincial de prata, ouro e cobre para ser remetida na frota de Pernambuco, 2 de Novembro de 1752.
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(continua)                                    

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