quarta-feira, 16 de maio de 2012

O Contributo da Família dos Sás para o Portugal da Idade Moderna

Na Universidade de Salamanca discutia-se a escravidão dos índios. Em 1545, a descoberta das minas de prata de Potosi levou à apropriação da mão-de-obra dos índios. A necessidade da libertação dos índios levava à aceitação natural da escravização dos africanos que eram vistos como "filhos de Caim." O tráfico de escravos vindos de África tomava uma nova proporção.
Os "assientos" eram contratos entre espanhóis e portugueses que levavam a que estes vendessem escravos africanos para as minas. Cartagena. Vera Cruz, Rio, são os pontos de entrada principais. Os escravos eram muitas vezes da confiança dos senhores. Tidos como fieis serviçais de que os espanhóis não se queriam separar. Empregavam-se na exploração da prata, do ouro e nos engenhos. Os africanos praticavam a agricultura e trabalhavam os metais, o que os tornava mais importantes que os índios. Atingiam preços elevados em leilão e o dinheiro destes "assientos" foi fonte de receita para pagar as lutas na Flandres durante o período do Imperador Carlos V e até Filipe II.
Em 1548 o rei D. João III resolveu abolir as capitanias, esgotadas que estavam as tentativas de todos se unirem para um bem comum. As diversas divergências entre capitães donatários, a entrega das explorações a terceiros que as não faziam prosperar, o abandono das terras e a sucessiva corrida às minas, fez com que se decidisse a submetê-las a um governo-geral que teve a sua sede na Baía.
No Brasil estava tudo por fazer: povoar, fundar vilas, aldeias e cidades. Este sistema de capitanias não obteve os benefícios esperados por D. João III.
«Na Baía, à chegada do Governador -Geral, estavam o Caramurú, com alguns portugueses, e os seus filhos e netos. Dois dias depois, a 31 de Março de 1549, celebrou missa o P. Manuel da Nóbrega, superior dos Jesuítas (e foi a primeira que eles disseram no Brasil). ... Assistiu Tomé de Sousa e todo o arraial.
A companhia de Jesus, passados 9 anos de ter sido fundada oficialmente, em 1540, mandou os Jesuítas para o Brasil. O padre Manuel da Nóbrega iria ter um papel muito importante e "a história da Companhia de Jesus no Brasil, no séc. XVI, é a própria história da formação do Brasil nos seus elementos catequéticos, morais, espirituais, educativos e em grande parte coloniais. (...) Em 1550, trouxe a segunda expedição de Jesuítas alguns meninos órfãos, colhidos ao acaso na Ribeira de Lisboa, educados no Colégio que fundara Pêro Domenech. Estes órfãos seriam os agentes de ligação com os meninos índios do Brasil." (5) Cantavam as mesmas canções, aprendiam a língua, tinham o mesmo corte de cabelo, participavam nas festas indígenas e mesmo nos funerais tradicionais dos índios. Fundiam-se num mesmo espírito cristão sem abandonar na totalidade os ritos naturais.
Tomé de Sousa, 1º governador-geral, conseguiu em 1551, a elevação do Brasil a bispado independente do Funchal. O primeiro bispo foi D. Pedro Fernandes Sardinha, que contrariou e se opôs à maneira de educar dos Jesuítas. Nóbrega respondeu que a experiência da Índia não se podia invocar no Brasil. (...) A conversão dos índios do Brasil não era questão doutrinária: era questão de costumes.» (5)
A antropofagia começou a ser combatida de imediato e certa vez os padres foram salvos por Tomé de Sousa, quando estes proibiam uma velha de comer um índio.
Este 1º governo foi dos mais benéficos para o Brasil e quando em 1553 regressou a Lisboa, o governador deixou as mais agradáveis recordações, pela sua administração e honradez.
De 1553 a 1558, governou Duarte Costa que, apesar de ter prestado importantes serviços ao Brasil, prejudicou o seu desenvolvimento devido a problemas que surgiram entre os colonos, que praticavam abusos, e os jesuítas. Como o Brasil tinha sido elevado à categoria de província da Ordem de Loyola, foi nomeado provincial da Companhia, o P. Manuel da Nóbrega, que fundou um colégio em Piratininga com o nome de S. Paulo.
João Ramalho, cuja influência nos índios era enorme, não viu com bons olhos estes afluírem à vila que se formava em redor do colégio. Daí nasceram as primeiras rivalidades entre os colonos e os jesuítas. O governador pôs-se ao lado dos colonos contra o Bispo e fez acusações para o reino. D. Pedro Fernandes Sardinha resolveu vir a Lisboa para apresentar as suas razões, e sofreu um naufrágio. Ele e a maior parte dos seus companheiros foram comidos pelos índios Caetés. Esta desgraça foi atribuída ao governador e este perdeu todas as simpatias.
Entretanto começavam as epidemias de sarampo na Baía, com a chegada de um navio infectado. Morria-se de paludismo, e os próprios padres eram atingidos. Corria o ano de 1555 e em Novembro os franceses ocupam a baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, com a intenção de transformar o enclave numa colónia francesa. Nicolas Durand Villegagon sonhava com a França Antárctica e tinha o apoio do rei francês, Henrique II. Instalaram-se sem dificuldades, estes 100 homens, patrocinados por Colingny, Calvinista, que queria um refúgio para os da sua religião se fosse preciso. Começaram a pesquisar a costa e a fazer amizade com os índios. Na ilhota de Sergipe, construíram um forte a que deram o nome de Colingny.
Duarte da Costa preferiu a inacção a uma derrota certa, tanto mais que os franceses haviam recebido reforço de armas e homens. Para maior embaraço, Caramurú morreu em 1557, e sem a influência do seu prestígio o governador viu surgir por toda a colónia a desordem e a indisciplina. Resolveu pedir a Lisboa a sua substituição.
D. João III também morreu nesse ano de 1557. Sucedeu-lhe, como regente, D. Catarina da Áustria, durante a menoridade do seu neto, o futuro rei D. Sebastião. A regente aceitou o pedido de Duarte da Costa e nomeou Mem de Sá como 3º governador do Brasil.
Esta era a panorâmica da sociedade de então e que antecedeu a ida para o Brasil de Mem de Sá, como governador. Homem de grande e nobre valor, glorificou a família e ajudou a preparar o Portugal da Idade Moderna. Engrandeceu o Brasil, a quem dedicou a sua vida e sacrificou a do filho, Fernão de Sá e do sobrinho Estácio de Sá.
Nesta introdução houve a intenção de fazer um breve resumo do historial do descobrimento e ocupação inicial do Brasil e da situação social, económica e cultural do Portugal de então, que precedeu a ida da família dos Sás para a Baía e o Rio de Janeiro.
Abordaremos mais demoradamente a figura do governador do Brasil e a figura do governador do Rio de Janeiro e Restaurador de Angola, Salvador Correia de Sá e Benevides. Contudo, seguiremos tanto quanto possível, como até aqui, uma breve  sequência cronológica acerca do contributo histórico da descendência dos Sás no país, que tanto engrandeceu Portugal e que se constituiu como a coroa de glória na sua história da colonização.
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Notas:
(1) In: SERRÃO, Joel, direcção de, Dicionário de História de Portugal, Porto, Livraria Figueirinhas, s/d, Vol. IV, pp.382.
(3) Idem, Vol. V, pp.545.
(2) In: ALMEIDA, A. Duarte, História do Brasil, Lisboa, L. Ed. João Romano Torres, 1936, pp.8.
(4) In: COELHO, Jacinto Prado, O Rio de Janeiro na Literatura Portuguesa, Lisboa, ed. da Comissão N.C. do IV Centenário do Rio de Janeiro, 1965, pp. 11.
(5) In: LEITE, Serafim, Páginas da História do Brasil, S. Paulo, "Brasiliana", Edições da Companhia Editora Nacional, 1937, pp. 14, 15, 41,46...     

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