sábado, 5 de maio de 2012

Ancestrais - O Berço Africano

" Nesta região chamada Maiombe, a divisão do trabalho desenvolveu-se melhor e quando os europeus chegaram, já encontraram habitantes a comerciar sal e peixe." Extraíam o óleo de palma, das palmeiras que cultivavam, em extensas zonas, na planície do rio Loango e retiravam a ráfia para a confecção de tecidos. Trocavam a madeira vermelha, tintureira, das zonas de floresta, por produtos da savana.
Terá sido aqui, segundo J. Vansina, que se formou o Reino do Congo por volta de 1400. Esta monarquia centralizava o poder nas mãos de ntotila, o rei, que controlava as rotas comerciais que uniam as regiões do Norte a Sul do rio Zaire.. A sua entronização fazia-se através de rituais complexos que comprometiam as diversas linhagens a uma veneração e obediência suprema. "Entre os séculos XV e XVII, este estado único ia do planalto de Benguela ao planalto Bateke, e do litoral atlântico até ao rio Cuango. Incluía a bacia do rio Inkisi e todas as terras ao Sul do Loge. (...) A fraqueza do reino encontrava-se na sucessão ao trono: a ausência de regras criava facções opostas e alimentava a instabilidade política-militar.
A capital, Mbanza, na qual morava o rei, e onde se cruzavam as rotas comerciais, contava, quando da chegada dos portugueses, cerca de 100.000 habitantes. Maior do que Évora, no entender de um observador estrangeiro, a cidade estava protegida por uma paliçada defensiva e possuía uma praça central onde os visitantes eram recebidos, as coroações proclamadas, planteis importantes de escravos negociados e a justiça era feita. Segundo John Thorton, era um lugar de concentração de riqueza e de residências da elite, local onde os primeiros viajantes portugueses se maravilharam com a qualidade da construção das casas e, especialmente, dos tecidos que decoravam as suas paredes."
Este reino, dividido entre o campo e a cidade capital, tinha três estratos sociais bem definidos: a nobreza, os camponeses e os escravos. O primeiro estrato detinha o poder de comando. A poligamia originava uma descendência real plural e diversa. A descendência da mãe é que dava o direito à posse das terras e decidia a própria  sucessão no governo das aldeias. A centralização militar era uma realidade obtida pela posse de "uma guarda composta de cerca de dezasseis a vinte mil escravos," que se tornava numa espécie de exército privado.
No que se refere à concepção religiosa, o reino tinha três cultos com um papel importante: o dos ancestrais, o dos espíritos territoriais e o dos feiticeiros. A realeza era considerada sagrada, porque constituía o poder de harmonizar as relações dos homens com a natureza. O rei era o "criador supremo."
Quando em 1482 Diogo Cão chegou à embocadura do rio Zaire e estabeleceu relações com o governador do Soio, soube-se em Lisboa da existência do Estado do Mani Kongo. Com ele vieram para Portugal, quatro congoleses e em troca ficaram quatro portugueses como reféns. Em 1484, voltou com uma embaixada enviada pelo rei de Portugal, contemplando os congoleses com muitos presentes e promessas de  amizade. Diogo Cão recebeu os reféns que tinha deixado e foi recebido com muita alegria por Nzinga-a-Nkuvu. Passados três meses regressou do país que é hoje o Zaire, e trouxe com ele, Caçuta, um familiar do rei.  D. João II e a rainha, que estavam em Beja, receberam-no e fizeram questão de ser seus padrinhos. Baptizaram-no com o nome de D. João da Silva. A mensagem que Caçuta e os seus companheiros traziam para o rei português era um pedido do rei do Congo para lhe enviar padres, lavradores para introduzir gado bovino e quem ensinasse às mulheres a fazer pão.
Em 1490, os africanos voltaram ao Congo e a expedição foi recebida, no Soio, ao som de tambores e marimbas. Os portugueses responderam com trombetas e cânticos religiosos. Os monarcas foram baptizados com os nomes de D. João e D. Leonor. Até ao final do século XV, abriram-se escolas portuguesas para ensinar a escrever, a aritmética, e a religião cristã.
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(continua) 

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