quinta-feira, 31 de maio de 2012

V - Salvador Correia de Sá e Benevides

O seu grau de Cavaleiro da Ordem de Santiago, que figurava em Espanha como a primeira Ordem, não o satisfazia completamente e Salvador iria lutar por conseguir trocá-lo pela Comenda da Ordem Militar de Cristo, que era a mais importante em Portugal. Ainda levaria alguns anos a consegui-la para toda a vida, porque, inicialmente, foi-lhe concedida a administração da Comenda de S. Salvador de Lagoa, no arcebispado de Braga, temporariamente, na ambicionada Ordem de Cristo. Mas o facto é que conseguiu, quatro anos mais tarde, em 15 de Dezembro de 1632, que a Coroa confirmasse essa Comenda, pelo continuado trabalho em prol do Brasil, (e do Perú), mesmo sem chegarem a vir as "necessárias dispensas do Papa. (Boxer, pp.68)
Em breve, o governo castelhano pedia a Salvador C. de Sá e Benevides para, como militar e Almirante dos mares do Sul, cargo para o qual foi nomeado, pôr fim à rebelião nos domínios do Rio da Prata. A sua vitória incontestável, largamente patenteada pelos seus doze ferimentos por flechas, coroava-o de louros em 1635.
Uma junta presidida pelo Conde-Duque de Olivares, em Dezembro de 1635, decidiu nomeá-lo para governador. Mas foi só por decreto de 21 de Fevereiro de 1637, (*) que o Rei Filipe IV assinou a Carta Régia que o nomeava, por seis anos, governador do Rio de Janeiro. [(*) este decreto foi impresso, em 1º lugar, por Varnhagem, in: "Revista Trimensal," III, pp.112/113; Boxer, pp.112]
Enquanto Salvador tinha estado em campanha no Paraguai e Tucuman, os holandeses tinham desencadeado uma segunda invasão ao Brasil em 1630. Matias de Albuquerque, governador de Pernambuco, que estava na Metrópole, receando um ataque à capitania, regressou ao Brasil e levou três navios com alguns homens. Tentou resistir ao general Diedrik Wardembugh, mas perante três mil homens, e sem a ajuda do governador-geral D. Diogo Luís de Oliveira, que não estava em condições de o ajudar, verificou que a desistência se impunha, para organizar a resistência. Retirou para o "Arraial do Bom Jesus", entre Olinda e Recife.
A ajuda que a Metrópole enviou saldava-se em 600 homens comandados por Vasconcelos da Cunha, dos quais só chegaram a Serinhgem 200 homens. O ataque a Olinda saiu derrotado e Matias de Albuquerque perdeu Porto Calvo, Bom Jesus, e Nazareth. Conservou Serinhgem e retirou para Pernambuco. Escrevia-se uma das páginas mais dolorosas da história do Brasil.
Depois de cinco anos em guerrilhas, a Companhia da índias Ocidentais tinha preparado uma esquadra de setenta navios, comandada por Cornelius Lonck, cujo almirante era Pieter Adrians, com mil e duzentas bocas de fogo e sete mil e duzentos soldados para conquistar Pernambuco.
Matias de Albuquerque foi preso em 1636 e enviado para Lisboa, por ter tomado a iniciativa de retirar com as suas tropas. Só viria a ser restituído à liberdade em 1640. Os espanhóis enviaram uma expedição com 1600 homens, que desembarcou em Alagoas em 1636. Comandava-a D. Luiz de Rojas y Borba, que vinha como governador e substituiu Albuquerque. Foi um verdadeiro desastre para os portugueses, porque logo que desembarcou resolveu, a 18 de Janeiro de 1636, atacar os holandeses. O comandante Articofski resiste e, numa violenta batalha, morreu Rojas. O conde de Bagnuolo assumiu o comando, fortificou-se em Porto Calvo, e iniciou uma guerra de guerrilha que se mostrará inglória.
Pouco depois, o Príncipe Maurício de Nassau, neto de um irmão de Guilherme de Orange, chegava a 23 de Janeiro de 1637, ao Recife, como governador holandês do Brasil. As suas forças, num total de cinco mil homens, derrotaram Bagnuolo que teve que regressar à Baía. Erguia-se uma nova Holanda no Brasil, pela inteligência, cultura, e notável política de equidade e brilho administrativo, de Nassau. 
André de Negreiros, Camarão, Barbalho e outros, seriam os chefes de guerrilha que continuariam a luta pela unificação do Brasil, numa verdadeira gesta heróica de resistentes.
Nesse mesmo ano, regressava Salvador de Sá, de Portugal, onde conseguira um reforço de 300 homens para a guarnição do Rio, com algumas munições, artilharia e barcos para os transportar. Considerava que a guarnição da praça necessitava de 600 homens. As ofensivas dos holandeses faziam temer o pior e previa-se um ataque à Baía ou ao Rio. A importância atribuída ao Rio de Janeiro deve-se ao facto de que, invariavelmente, dos requerimentos que fazia, Salvador recebia tudo o que pedia.
Depois de uma calma viagem, tomaria posse, formalmente, como governador da capitania-mor do Rio de Janeiro, em 19 de Setembro de 1637. (Boxer, pp. 112)
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(continua)         

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