terça-feira, 29 de maio de 2012

V - Salvador Correia de Sá e Benevides

P. Vieira descreveu na carta ânua de 1626, essa vitória de Salvador e dos seus homens:
«Salvador Correia de Sá...os acometeu com as canoas e apertou de maneira às frechadas que, sendo mortos quarenta, lançando uma lancha à força de remo, escaparam. Com estes ruins sucessos desesperado já da sua fortuna, o general inimigo mandou ao outro dia, que era o terceiro da entrada, um recado ao capitão, em que lhe pedia um sobrinho seu, que parece ficara preso entre nós, oferecendo regate, e que os padres da Companhia lhe mandassem algum refresco, pelo bom agasalho que ele fizera aos outros padres que na Baía foram tomados. Visto o que, respondeu o capitão que, enquanto ao sobrinho, devia morrer na briga, porque não o tinha preso, e ao segundo, que não havia na terra outro refresco senão o que nos dois dias anteriores tinham experimentado, e com ele estava aparelhado para os receber a qualquer hora. Ouvida a resposta, levaram ferro no mesmo dia e se fizeram na volta do Norte. Em um e outro encontro se acharam os nossos padres, no primeiro os que residiam na vila, no segundo, dois, que em companhia do capitão Salvador Correia vieram do Rio de Janeiro; e assim uns como outros não faltaram nem à guerra, nem aos soldados antes dela.» (Norton, pp.30/31)
A 18 de Março saiu Salvador Correia de Sá e Benevides, vitorioso, para a Baía, onde chegou a 15 de Abril. Entretanto, tinha chegado de Lisboa, a 29 de Março, véspera da Páscoa, reforços para reconquistar a cidade aos holandeses. D. Manuel de Menezes comandava a esquadra que tinha saído de Lisboa, com vinte e dois navios, em Novembro de 1624. Aos portugueses, deviam reunir-se espanhóis e napolitanos, nas ilhas de Cabo Verde e daí partiriam em conjunto. D. Manuel de Menezes teve de esperar seis semanas por estes contingentes de tropas e durante essa espera perdeu centenas de homens com febres. A Espanha, mesmo determinada, continuava a não ser suficientemente rápida no apoio ao Brasil. Esta armada combinada só sairia de Cabo Verde a 11 de Fevereiro de 1625. Levavam cinquenta e dois navios, 12.566 homens e 1.185 canhões, sendo a armada maior e a mais forte que até aí tinha atravessado a linha.
A impressão que a armada combinada causou na guarnição holandesa, quando entrou, majestosamente, no Domingo de Páscoa, na Baía de todos os Santos é descrita, segundo Boxer, (pp.61) pelo soldado alemão Aldenburg, com uma emoção semelhante à do padre António Vieira, que tão vivamente descreveu a entrada da armada holandesa no ano anterior.
O desembarque começou a 1 de Abril. A guarnição holandesa ainda reagiu, efectuando um ataque ao mosteiro Beneditino onde causaram cento e noventa e cinco baixas, mas os mercenários franceses e ingleses e também alemães e escandinavos, começaram a negar-se a lutar, e a praça rendeu-se a 1 de Maio.
Salvador Correia de Sá e Benevides só chegou quando os holandeses já estavam cercados há 15 dias e, por isso, as suas tropas ocuparam-se da guarda do mosteiro de S. Bento. Apesar da sua oferta para participar com os seus homens num ataque nocturno aos navios holandeses ancorados ao largo, D. Manuel mostrou-se relutante e, entretanto, o ataque não chegou a concretizar-se, devido às condições atmosféricas. Contudo, reconheceu a bravura de Salvador e dos seus companheiros colonos, assim como dos seus guerreiros índios, que eram preciosos arqueiros "capazes de furar a asa de um pássaro com duas setas antes de ele cair no chão". (Boxer, pp.63) Dava-se a capitulação dos holandeses, e era aclamada a vitória histórica da "Jornada dos Vassalos."
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(continua)

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