quinta-feira, 24 de maio de 2012

IV Martim de Sá - Governador do Rio de Janeiro

Martim de Sá nasceu no Rio de Janeiro cerca de 1575. O seu pai, Salvador Correia de Sá, casou três vezes. D. Victória da Costa é a única esposa que figura no fragmento da árvore genealógica que nos fornece Clado Ribeiro de Lessa. A exacta categoria social da mãe de Martim de Sá parece estar envolta em mistério. (Boxer,pp.5)
Martim de Sá casou-se com uma senhora anglo-espanhola, chamada Doña Maria de Mendoza y Benavides, filha de Manuel de Benavides, o castelão, mais tarde governador de Cádis, e de sua esposa inglesa, Cicely Bowerman. Este enlace deve ter sido por volta do ano de 1600, durante uma viagem que terá feito à Europa, mas a data não está determinada por falta de registos. (Boxer,pp.7) Certo é, porque está documentado, que o seu filho Salvador Benevides nasceu em Cádis, em 1602.
No entanto, em Julho desse mesmo ano, Martim de Sá estava no Rio, uma vez que existem documentos por ele assinados com essa data. Depois de ter acompanhado o pai em algumas expedições de prospecções mineiras e de captura de escravos, toma posse como governador do Rio de Janeiro, a primeira vez, desde 1602 a 1608. A partir desse ano "voltaria a ser, como seu pai tios e primos, o administrador geral não só daquela antiga donataria, atribuída a Martim Afonso de Sousa, mas também o defensor das capitanias do Sul". (Norton. pp.19/20)
Corria o ano de 1617 quando Martim de Sá partiu para Lisboa. Durante esta estadia, requereu e obteve de Filipe II o cargo do pai, Administrador de Minas, quando este falecesse. Ao regressar, exerceu o cargo de capitão-mor de S. Vicente, desde 1620 a 1622. Em 1623, Martim de Sá iniciou nova governação e reatou a tradição familiar de receber o governo pela 2ª vez, e o cargo de defensor das capitanias do sul, que iria manter até à sua morte em 1632.
"Na carta ânua, escrita pelo Padre António Vieira de 1626, descreve-se o cuidado e a prudência que o governador usou para defender o Rio de Janeiro dos ataques holandeses. Fortificou-se a praia e ergueu-se uma fortaleza na entrada da barra com a ajuda dos Padres da Companhia a quem o governador recorreu para se fazer o recrutamento dos índios. Ao governo de Martim de Sá deveu a cidade do Rio de Janeiro não ser tomada pelos holandeses." (Norton,pp.20) Da mesma opinião é Boxer que aponta o seu mérito e diz que ele fez muito pelo desenvolvimento da cidade e provou ser um hábil e enérgico governador. A industria, a agricultura e o comércio prosperou e a cidade fortificou-se.
S. Schwrtz refere, que a indústria açucareira do Rio de Janeiro se expandiu rapidamente entre 1610-1612 e 1629, tendo o número de engenhos aumentado de 14 para 60, uma taxa de 8% por ano. Essa expansão terá sido provocada pela introdução de novas máquinas e tecnologias que tornavam mais barata e fácil a construção de novos engenhos a pequenos produtores. As grandes prensas ou gangorras eram substituídas pelo «engenho de entrosas», de «três paus» ou de «palitos», como por vezes se chamavam. O século XVII trazia consigo o predomínio da produção de açúcar à colónia, apesar do Rio de Janeiro também se especializar na produção de geribita.
Esta rápida industrialização também se explica pelo facto de o preço do açúcar branco na Baía ter subido de 500 reis por arroba, em 1570, para quase 1600 reis, em 1613. As tréguas entre a Espanha e as Províncias Unidas desde 1609 tinham conduzido a uma prosperidade e expansão harmoniosa. Essa expansão tinha contudo um preço. André de Gouveia alertava nesse mesmo ano de 1609: «Um engenho é inferno e todos os senhores deles são perdidos». O Brasil tornar-se-ia no maior importador de escravos.
O início da Guerra dos Trinta Anos, em 1618, irá conduzir à depressão a partir de 1620, uma vez que se iniciaram as hostilidades com os holandeses. Problemas cambiais provocados pela manipulação dos diversos governos da Europa, que tinham os armazéns bem abastecidos, afectaram duramente a economia açucareira do Brasil durante uma década. Em 1630 os lucros dos plantadores baianos tinham descido entre 30% e 50% relativamente aos níveis de 1612.
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(continua)      

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