quarta-feira, 2 de maio de 2012

Ancestrais - O Berço Africano

A poligamia era, por isso, um sistema que privilegiava os homens ricos e que se manteve ao longo de muitos séculos. As crianças eram adoradas dentro das famílias, mas as lutas entre os jovens e os velhos manifestavam-se pelas mais diversas razões. "Entre fons, iorubás e ibos, havia vantagem em ser idoso. A idade garantia o acesso às mulheres, aos deuses e os jovens só lhes dirigiam a palavra de joelhos ou de cócoras."
Os jovens apostavam na beleza física. A estatuária feita em barro, em Nok, no estado de Kaduna, na actual Nigéria, mostra os rostos expressivos dos jovens com  penteados em forma de coque, coroados de penas e ornamentados com cachos e tranças laterais. Vestiam trajes elegantes e usavam anéis e pulseiras que colocavam também nos tornozelos. Tinham rituais de iniciação à idade adulta o que valorizava a maturidade dos mais velhos. "Entre os dogons, desrespeitar um ancião equivalia à morte em vida." No entanto, segundo testemunhos, o mesmo não se passava em todas as regiões. Na Costa do Ouro os homens não gostavam de ser velhos porque não eram respeitados e estimados. No Zfé, cidade sagrada, de onde veio o primeiro obá do Benim, representavam os seus reis enquanto jovens, porque o declínio só se prestava a máscaras em forma de caricatura.
Todo o labor que permitia a sobrevivência era, de uma maneira geral, semelhante, mas o trabalho das mulheres variava de cultura para cultura. "Podia ser preponderante como os anjicos, do lago Malebo, no actual Zaire; ou podia ser mínimo como ocorria entre os iorubás." As mulheres plantavam e retiravam as ervas daninhas. Em alguns grupos da floresta e da parte sul da savana as mulheres ocupavam-se do pequeno comércio com uma certa autonomia. Em Bornu, na savana do Sudão, as mulheres dos monarcas assumiam um tal poder que lhes permitia tomarem decisões políticas e controlarem territórios. Estes poderes contrastavam com os das camponesas que lavravam as terras e muito mais com as actividades das escravas. Eram sociedades bem organizadas e que tinham por base, na maioria das regiões, uma casa grande dirigida por um "grande homem" rodeado de mulheres, filhos, irmãos menores, parentes pobres e dependentes, que constituíram os grupos essenciais de colonização na África Ocidental.
"...Os mandês, grandes comerciantes de ouro, circulavam entre Bambuk e Buré, na Senegâmbia" passavam por Tombuctu e vendiam aos árabes e berberes. Tinham uma bem organizada actividade comercial, assente na estrutura familiar e com um código de honra que surpreendeu os portugueses quando os conheceram: "E se fiavam uns dos outros, sem conhecimentos nem escrituras, e sem testemunhas." Valentim Fernandes contou que "se um devedor morresse, um seu filho ou herdeiro não deixava de pagar a dívida." Por esta altura o comércio de escravos era uma fonte de enriquecimento e, por isso, os hauçás juntavam-nos às suas famílias em grande número. "No século XVII, o domicílio de um notável numa cidade da Costa do Ouro, podia ter até 150 pessoas. O de um outro no Reino do Congo, centenas. (...) Os dados relativos aos reinos do Congo, entre os séculos XVII e XVIII, permitem inferir que as famílias de agricultores pobres tinham em média cinco ou seis pessoas e ligavam-se por laços de parentesco. Num e noutro caso a organização social era dominada pela família."
Na região do Congo e do Tchad, foram feitas escavações que revelaram vestígios e testemunhos de centros urbanos importantes que mostraram a existência de um rico passado cultural. Dominava o comércio, mas existiam "mercados, lugares de culto, praças para reunião, quarteirões especializados, casernas, portos, edifícios administrativos e, às vezes, palácios reais. A vida urbana era regida por várias actividades lúdicas: cantos, jogos, danças, sem falar nas cerimónias religiosas tradicionais." A educação ocupava uma parte importante da vida urbana.
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(continua)

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