terça-feira, 22 de maio de 2012

III - Salvador Correia de Sá (O Velho) Governador do Rio de Janeiro

As bandeiras, verdadeiros bandos organizados, que integravam centenas de pessoas, constituíram-se assim como uma forma, praticamente legítima, de angariar escravos. D. Luís de Brito informado por Fernando Tourinho da existência de minas de esmeraldas, enviou uma expedição de bandeirantes dirigida por António Dias Adorno, para o sertão. No regresso, traziam amostras de esmeraldas e outras pedras preciosas e mais de sete mil índios Tapiguains, como escravos.
Muitos dos bandeirantes, como por exemplo António Raposo Tavares, que durante dois anos fez um percurso terrestre que o levou a Santos, a S. Paulo e a Belém e regressou depois à Baía, contribuíram para desbravar o território brasileiro. Certas vezes levavam mulheres e filhos, missionários e escrivães que traçavam as rotas e tomavam notas de toda a expedição. Alguns, dada a grande extensão destas viagens, fixavam-se temporariamente, não só para semear e colher os alimentos, feijão, milho, etc., mas para caçar, criar gado, construir canoas e formar povoados que mais tarde deram origem a vilas e cidades.
Os missionários, os bandeirantes e os criadores de gado, foram dos pilares básicos da colonização do Brasil. Outros conquistadores como Frutuoso Barbosa, de infeliz destino, Simão Rodrigues Cardoso, que conseguiu estabelecer-se na margem direita de Paraíba, ou João Coelho de Sousa, que como explorador, subiu o rio de S. Francisco e fundou a povoação de Quebrobó, deram o seu valioso contributo. Quando, em 1581, António Dias Adorno regressou de uma exploração a Minas Gerais, feliz porque tinha encontrado minas de pedras preciosas, que se propunha explorar, ficou sem o apoio para continuar o seu trabalho por ter falecido o governador geral Lourenço da Veiga.
Salvador Correia de Sá, logo que teve o cargo de Administrador de Minas, também foi bandeirante - «no sentido de sertanista» - pois, com os filhos varou os sertões da Paraíba, ultrapassou a serra da Mantiqueira até ao Rio Verde e marcou o itinerário às futuras bandeiras do século XVII. Chegou a recorrer ao governo de Lisboa para que lhe enviassem mineiros.(Norton, pp.15)
Ele, os seus três filhos, dois dos seus irmãos e três primos, serviram de exemplo abnegado da criação e desenvolvimento da cidade do Rio de Janeiro.
O Brasil, quando passou para o poder político dos espanhóis, tinha cerca de 150 engenhos de açúcar e a produção ascendia a duzentas mil arrobas. Essa principal mercadoria de exportação e de riqueza era conseguida com muito e pesado trabalho. Padre António Vieira dirá mais tarde que sem escravos não havia açúcar, e sem açúcar não havia Brasil. Laboravam os engenhos de dia e de noite e os campos de cultivo estavam também dependentes dos escravos africanos e índios.
O Oceano Atlântico funcionava como uma plataforma giratória no século XVI: era algo que unia, e não que separava, e facilitava o comércio bipolar entre o Brasil e a África. Tansportavam-se homens e técnicas. No entanto o Brasil do séc. XVI e XVII é, por assim dizer, vários "brasís", ainda com dificuldades em comunicar entre o Norte e o Sul. Os ventos e as correntes permitiam a ligação entre a costa brasileira, Cabo Verde e a Guiné e dava-se continuidade entre Angola e a Mina, onde os escravos capturados eram tidos e vendidos como prisioneiros de guerra. Os portugueses eram amigos do rei do Congo e compravam estes homens, mais valiosos que as mulheres, com os mais diversos produtos: conchas, "panos de lei", animais domésticos, cavalos, aguardente, etc. Estes negociantes ligados ao tráfico negreiro eram homens de grande poder económico e cultos, porque podiam ter bibliotecas actualizadas e discutiam sobre tudo, inclusive literatura. Por vezes também foram perseguidos pela inquisição.
________________________________________
(continua)        

Sem comentários:

Enviar um comentário