Com José Régio considera o autor (D. Ivo Cruz) que se atinge "um dos mais elevados cumes de todo o teatro português, (...) verbo e cena, literatura e espectáculo, ideação e realização, fundem-se na harmonia admirável de um todo contínuo, de um bloco íntegro de arte, (...) que nasce da sensibilidade e da razão do seu criador." O importante era para José Régio que "na forma e no conteúdo" existisse uma verdadeira qualidade estética; por esse motivo tornou a sua obra liberta dos "condicionalismos locais" e imprimiu-lhe a "consciência e sensibilidade do homem universal". São, por isso, perenes "as personagens de Régio, porque são eternos os conflitos e eterna é a dualidade entre o bem e o mal, o positivo-negativo, a luta entre Deus e o diabo, que o homem vive, que Régio construiu de uma forma superior." Se o seu teatro é de alcanse universal, as suas raízes são inegavelmente portuguesas, porque, como ele próprio admitia: "as minhas produções teatrais são criações (...) nasceram de mim como se fossem meus filhos." Todas as suas peças "são na verdade teatro, espectáculo e literatura, dinâmica e poema."
O ambiente cultural e social que se viveu após 1945 teve consequências diversas para o teatro português, que percorreu caminhos experimentais no campo do espectáculo e outros de "criação dramatúrgica de elevada qualidade". Por outro lado, "diminui a trave mestra do profissionalismo teatral, como diminuirá a qualidade e a quantidade do público; dá-se o afastamento generalizado dos dramaturgos portugueses da cena, seu meio e modo natural." Porém continuam os nossos escritores a escrever para o teatro, apesar de todas as crises vividas: Jorge de Sena que recupera o género de peça histórica, em O Infante desejado, em que descreve "a tagédia (...) do infeliz Prior do Crato. Além deste, utilizou outros processos na sua escrita dramatúrgica .
Luís Francisco Rebelo, segundo Duarte Ivo Cruz, abre perspectivas de maior relevo para o atribulado teatro português. De uma maneira geral, a sua obra realça o aspecto da vida com uma realidade que nos conduz a outra realidade, que é a morte, que identifica com o vazio. Por outro lado, também é marcada "por uma finalidade de permanente crítica social de visão ou revisão dos problemas do homem (...) numa perspectiva pessimista", constituindo, no entanto, a globalidade da sua obra "um esforço coerente e culto, de amor ao teatro."
Bernardo Santareno é um autor que tem como origem do seu teatro a regionalidade, onde a raiz popular expressa "A rudeza dos conflitos (...) na crueza desmedida das situações. (...) Fortes são as peças, fortes são as personagens". É um teatro que fala da nossa cultura, "do povo, a massa, a terra; (...) rico de símbolos da natureza: o almur, o toiro, os lobos, os cães, as ondas, os ventos, a tempestade, a neve, o fogo, a terra outra vez." Cumpre-se o eterno retorno, vive-se uma "intensidade extrema de psicologias e situações." (...) O sexo é o catalizador mais forte deste combate essencial. A mulher assume assim relevância, no teatro de Santareno; surge-nos violenta no amor, como nas maldições. Nas suas obras, através da beleza da sua linguagem, tenta a conciliação entre o meio urbano popular e o meio artístico ou burguês, repetindo-se nos temas de psicologias e condutas.
Em termos de conclusão, e admitindo algumas omissões, não queria deixar de registar os nomes dos autores : Tomás de Figueiredo, Luís de Sttau Monteiro, Natália Correia, José Augusto França, Agustina Bessa Luís, José Rodrigues Miguéis, Augusto Abelaira, Miguel Franco, Maria Teresa Horta, Fiama Pais Brandão, José Gomes Ferreira, que contribuíram com diversas correntes e amplos caminhos para o alargar de horizontes do teatro português.
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