sábado, 18 de fevereiro de 2012

De Gil Vicente A Garrett (continuação)

Todo o teatro português contemporâneo é marcado de uma maneira geral por "uma linha de evolução realista-naturalista," que origina uma permanente dialética crítica, surgindo, assim, "o teatro como documento das crises psicológicas e sociais de uma época de grandes transformações," em que se atravessam duas guerras mundiais, que originaram mudança de ideias e de atitudes, que afectaram o teatro. Várias são as companhias teatrais e as salas de espectáculo que resistem a estes períodos perturbantes, porque continua a haver autores que fizeram na sua vida uma escolha pelo teatro: Ramada Curto é disso exemplo, pois, durante cinquenta anos, escreveu para o teatro, "mais de trinta títulos", todos eles com carácter específico da preocupação com a sociedade e o seu semelhante.
Outro autor de relevo terá sido Vasco de Mendonça Alves, que igualmente teve uma carreira e um número de obras como Ramada Curto. Porém, tinha por tema a lição de moral e os problemas familiares, sendo, por isso, o seu teatro de uma linha estoicista com um "ritmo popularizante e genuinamente português. Escreveu uma peça que se mantém ainda hoje muito conhecida, O Meu Amor é Traiçoeiro, de 1935."
Vitorino Braga, de cariz realista, "criou teatro encarnando as qualidades e os defeitos do seu tempo cultural".  António Botto deixou um teatro populista e, das suas peças, Alfama   foi a mais conseguida  "na dinâmica teatral da acção, no sentido equilibrado dos ritmos e das expressões." Outro autor que deu o seu contributo para o conhecimento da nossa cultura popular e regionalista, foi Carlos Selvagem, que tem como protótipo da sua obra "o drama  rural", criando ambientes da Beira Baixa e reflectindo as suas personagens "características etnográficas" num teatro em que se inscreve o problema do conflito entre o indivíduo e a sociedade, com uma crítica implícita a esta e uma análise perfeita às "psicologias dominantes". Joaquim Paço d'Arcos através de uma "construção naturalista" descreve os ambientes e as condutas de Lisboa, observadas da realidade e colocadas "no tempo e no espaço".
Quanto à corrente neo-realista, e ainda, segundo o autor Duarte Ivo Cruz, não deixou para o teatro uma obra que se considere expressiva. Vergílio Ferreira, José Cardoso Pires e Manuel da Fonseca,  foram escritores que escreveram teatro, de "diverso sentido e valor". Romeu Correia investe no teatro "a maior parte do seu talento", seguindo uma dramaturgia "populista de raiz". Alves Redol terá sido o que se revelou de maior valor dentro desta corrente.
Vários são os escritores que se propõem escrever teatro, e enumerá-los todos, assim como às suas peças, seria uma tarefa impossível neste esboço que me propus fazer sobre a história do teatro e o seu contributo para  a cultura portuguesa. Contudo, o que muito me apraz registar é que "num País sem tradição de escritores de teatro" surgem mulheres a escrever para o teatro, que ficarão inscritas na  sua história "com valor apreciável" e um contributo para o enriquecimento da nossa cultura. Podemos citar Laura Chaves, Virgínia Vitorino, Maria da Graça Ataíde, Isabel da Nóbrega, Graça Pina de Morais, Fernanda de Castro, Olga Alves Guerra e, eventualmente, outras de que não possuo registo.  

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