Laurent Jenny diz-nos que não se pode deixar de perguntar, em relação a cada época, quem detém os "media" e como são esses "media" utilizados (2), quando nos fala da influência do "medium jornalístico" que se verifica na obra de John dos Passos e de James Joyce. Esta importante questão da intertextualidade leva-nos a verificar o poder de influência dos jornais e de como podem ser utilizados das mais diversas maneiras. Quem os detém pode fazer deles um veículo para conduzir, educar, ou manipular multidões.
"O jornal moderno é filho legítimo da primeira revolução industrial, com o seu duplo corolário de desenvolvimento da instrução e da urbanização. Porque, segundo a expressão de Zola, 'a ideia de jornal está ligada à ideia de multidão'. Assim, à civilização oral e rural do Ancien Regime, fundada sobre a aliança entre o trono e o altar, sucedia-se uma civilização urbana e escrita na qual o jornal e o sistema representativo se substituíam mutuamente. Ou não declarasse Guizot que 'a liberdade de imprensa e o Governo representativo são inseparáveis'. Nessa época, os seus adversários desenvolveram a tese - atribuída a Burke (finais do séc. XVIII) - do 'quarto poder', com o propósito de denunciarem a influência perniciosa da imprensa. Em 1828, na Câmara dos Deputados, foi, pois, possível ouvir-se esta acusação inflamada: ' acreditou-se até agora que o Governo representativo era composto tão-somente por três poderes; vou designar um quarto que será, a breve trecho, mais poderoso que os outros três. (...) O seu nome genérico é licença de imprensa e o seu nome da guerra é jornalismo'. depois disto, o mesmo argumento seria igualmente invocado pelos próprios defensores do jornal, ansiosos por verem reconhecido o seu papel social." (3)
Isto passou-se em França, onde a empresa jornalística vai ser assegurada em 1865, através da venda directa de um jornal diário a um preço módico e que passa a servir todo um público popular, ao contrário do que se passava até aí, que se praticava uma imprensa elitista, quer pela sua difusão, quer pelo seu conteúdo. E em Portugal, desde quando é reconhecido o papel social do jornal? O 'quarto poder' é exercido em pleno? Creio que a imprensa em Portugal conheceu, através dos tempos, sucessivos actos de censura que dificultaram o seu papel social de divulgação. Os jornalistas, os escritores e colaboradores viveram proibições que coagiram a sua inteligência e toda a sua criatividade.
"O primeiro acto de censura precedeu o aparecimento dos jornais, quando, em 1627, o rei Filipe III suprimiu a publicação de panfletos." (4)
"Somente em 1641 foi lançado em Lisboa o primeiro órgão da imprensa portuguesa, a Gazeta, em que se relatam as novas todas, que houve nesta côrte, e que vieram de outras partes, no mês de Novembro de 1641, cujo primeiro redactor foi o poeta Manuel de Galhegos. 'O primeiro jornal é revolucionário; o seu aparecimento correspondia à ânsia de notícias sobre os sucessos militares portugueses e ao intuito de congregar o povo em torno do Governo que se formava.' (...) A Gazeta foi saindo até Setembro de 1647, e reapareceu em 10 de Agosto de 1715 [(cujo redactor foi José Monterroio Mascarenhas, durante quarenta e cinco anos ininterruptamente (*)], mudando várias vezes de nome, até que, em 1820, se tornou Diário do Governo." (5)
Precisamente nesse ano, com "a fundação da monarquia constitucional" temos a primeira lei da imprensa e, com ela, o fim da censura. Ao logo de trinta anos é um vai-vem de apertar e abrandar o controle sobre a imprensa. Em 1842 novas medidas repressivas se abatem contra a imprensa.
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Notas:
(2) - Jenny, Laurent, A Estratégia da Forma, pp. 9 e 10.
(3) - Lavoinne, Yves, A Inprensa, in Prefácio.
(4) - K. Agee, Varren; Traquina, Nelson, O Quarto Poder Frustado, pp. 22, 29.
(5) - Neves, João Alves das, Jornalismo e Literatura, O Ensino da História da Imprensa de Língua Portuguesa no Mundo, pp.36.
(*) Este parêntese não consta do trabalho entregue ao professor, foi acrescentado, hoje, por considerar uma informação importante para o leitor, e porque foi sobre a Gazeta de Lisboa de 1715 a 1760, que fiz a minha Dissertação de Mestrado.
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