terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

II Breve História sobre os Jornais em Portugal (Continuação)

Após  o 25 de Abril voltou aos jornais o prazer do texto no sentido caracterizado por Barthes e com o qual estou de acordo: "inteligência, ironia, delicadeza, euforia, domínio, segurança: arte de viver." É esta a perspectiva pela qual vejo a função dos jornais: ajudar a que a palavra "cultura possa até ser descrita simplesmente como aquilo que faz a vida merecer ser vivida" (T. S. Eliot). Para isso devem escrever os jornalistas, devem contribuir os jornais? Esta é a minha questão, e interrogo-me se "o gesto de escrever foi realmente afectado até à raiz" com o 25 de Abril, ou se o quarto poder vive "frustrado"  em Portugal. A legislação portuguesa garante presentemente à imprensa a liberdade necessária para informar a opinião pública, no regime democrático, assim como garante aos jornalistas o direito de elegerem o conselho de redacção. As licenças aos profissionais são agora concedidas pelos sindicatos.
A deontologia profissional é preservada através de um código que, no seu artigo 9 (Estatuto dos Jornalistas), interdita legalmente qualquer espécie de constrangimentos internos ou organizacionais: 'os jornalistas não podem ser constrangidos a exprimir opinião ou a cometer actos profissionais contrários à sua consciência.' Enumera as obrigações profissionais.
Tudo leva a pensar que, realmente, hoje existem em Portugal as condições ideais para que se pratique um jornalismo activo, independente e capaz de exercer efectivamente o "quarto poder" em pleno; porém, parece que continua a não ser fácil a vida dos jornalistas, a própria existência dos jornais. Surgiram novos títulos:  além  do semanário Expresso, empresa privada que já existia em 1973, e que, por dispor de meios económicos estáveis, se tem vindo a impor nos meios de comunicação como um jornal de qualidade, mantendo-a através de um quadro redactorial bem constituído, assim como de diversos bons colaboradores espalhados pela Europa e América, contribuindo, por isso, para uma boa divulgação cultural.
Após o 25 de Abril vão surgir novos semanários, que trabalham com o objectivo de serem o mais independentes possível, podendo praticar um jornalismo moderno, de qualidade e ao nível dos bons jornais da Europa e do Mundo.  É o caso de O Jornal, empresa privada que surge a 1 de Maio de 1975, na qual um grupo de homens de valor se empenharam, através de imensas dificuldades, em criar vários jornais que, inegavelmente, têm contribuído para uma informação credível e a boa divulgação cultural que existe hoje, e não existia antes do 25 de Abril. O JL, jornal de Letras, artes e ideias; O Sete, jornal de espectáculos, são igualmente propriedade desta empresa.
As iniciativas deste grupo de jornalistas, penso que irão ficar na história da imprensa portuguesa, como Homens de mérito.
O Tempo surge em 1975 e o Semanário em 1984, mais recentemente o Independente, também são jornais privados, sobre os quais não me irei pronunciar porque, em parte, os desconheço, e aqui manifesto o problema que se põe quando nós, mesmo involuntariamente, vamos semanalmente comprando o jornal que mais nos agrada pessoalmente, quer porque tem uma escrita de qualidade, quer porque confiamos mais naqueles que escrevem e naquilo que nos dizem.
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(continua) 

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