Continuando o percurso destes anos 30, encontramos os reflexos da influência germânica no nosso cinema. Imagens claras e luminosas, fimagens no exterior. Artur Duarte regressa a Portugal, vindo da Alemanha, onde após a subida dos nazis ao poder, traz consigo uma equipa germânica de origem judaica. Estão no projecto de «Gado Bravo», assinado por António Lopes Ribeiro, onde encontramos já o trabalho dessa mesma equipa alemã, que se irá repercutir em vários filmes da década: «As Pupilas do Senhor Reitor», «A Revolução de Maio», «Maria Papoila», «A Rosa do Adro», «A Canção da Terra», «Os Fidalgos da Casa Mourisca» e «Feitiço do Império» são disso exemplo. Trabalho de operadores alemães, que viriam a influenciar os nossos principais operadores, como, por exemplo, Salazar Dinis que Leitão de Barros muito considerava. Este realizador continuava a dar mostras do seu trabalho inovador. Assim, surge «Bocage» que inicia um ciclo de filmes histórico-literários a que se irá dedicar.
Chianca Garcia estreia uma comédia, «O Trevo de Quatro Folhas», no S. Luís, em Junho de 1936. Já neste tempo os orçamentos eram elevados, pois este filme ficou em quatro mil contos, o mais caro da época. Em 1939, este realizador estreará o seu último e melhor filme em Portugal (pois irá radicar-se no Brasil), «A Aldeia da Roupa Branca», considerado hoje como um "clássico da comédia popular"; tinha a Beatriz Costa também na sua última representação no cinema.
Nos anos 40 vive-se, curiosamente, uma década de cinema de humor, de que «O Pai Tirano», de António Lopes Ribeiro, é exemplo. A comédia "assentava arraiais" e mostrava-se bem ao gosto popular, que até aí já cimentara no teatro de revista. «O Costa do Castelo», «A Vizinha do Lado», ou o «Leão da Estrela» eram textos dialogados (filmados, normalmente, em interiores, e de poucos cenários), que já tinham dado provas ao serem representados com sucesso.
Buscava-se, por isso, um cinema que fosse divertido e, ao mesmo tempo, garantia de bilheteira. Continuava-se com o «Pátio das Cantigas» (de Francisco Ribeiro, o 'Ribeirinho') e «A menina da Rádio» (de Artur Duarte), com a tradição de um cinema dos bairros lisboetas. Microcosmos que denuncia o próprio País. Ou seja, um país macrocéfalo, em que a capital, e um pouco o Porto, têm o monopólio da cinematografia.
Ao mesmo tempo, digo 'curiosamente', porque esta era uma época em que se vivia uma II Gerra Mundial, e foi precisamente neste tempo em que se realizaram as maiores comédias do nosso cinema! Veio, no entanto, um grande prémio da Bienal de Veneza (1942), pela primeira vez para Portugal, com o filme «Ala Arriba», de Leitão de Barros, que era no género de «Maria do Mar», agora decorrido na Póvoa do Varzim. Outros filmes se realizaram, dos quais não poderei falar detalhadamente, mas ainda queria referir «Aniki-Bobó», de Manoel de Oliveira e «Um Homem às Direitas», de Jorge Brum do Canto. Iniciar-se-iam, então, os filmes de cariz melodramático com raízes históricas, dadas por romances dos nossos escritores: «Amor de Perdição», «Inês de Castro», «Camões», «A Morgadinha dos Canaviais», «José do Telhado», «Sonho de Amor», (de Carlos Porfírio), 1948, e «Vendaval Maravilhoso», que dão a este período uma nota de apogeu cinematográfico. Este é conseguido através da filmagem de «Inês de Castro», sobre a qual nos diz Luís de Pina ser "mais sentimental do que real, mais próximo do sonho (...) essa fluência do cineasta Leitão de Barros, que (...) é acusado, como mais tarde Manoel de Oliveira, em nome do complexo do cinema puro. É um cinema plástico? Cenográfico? Melodramático? Com certeza; mas funciona, faz vibrar o sentimento, desperta a sensibilidade como mais nenhum realizador conseguiu em Portugal; é profundamente português no barroquismo, às vezes delirante da sua inspiração." Deste barroquismo também será acusado em «Camões».
Por esta altura surge em Portugal "o movimento cineclubista", que irá desempenhar o seu papel após a crise dos anos 50. Os cine-clubes foram críticos e prepararam uma nova geração, que continuará este amor pelo cinema. Amor esse que Leitão de Barros demonstrou pela cinematografia, apesar de todas as desventuras que sofreu com o «Vendaval Maravilhoso».
A propósito de «Camões», Luís de Pina diz não ter dúvidas de que Leitão de Barros concebeu a figura do poeta como uma imagem de Portugal, e é esse o sentimento mais profundo da visão histórica de «Os Lusíadas» na cena de António Vilar diante das tapeçarias de Pastrana, síntese da própria História de Portugal.
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