segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

"A Nova História" (Apêndice)

Sou Homem e nada do que é humano me é alheio.
Terêncio

APÊNDICE

Marc Bloch morreu em 1944, fuzilado por alemães. Este historiador escrevia pouco tempo antes: "Sempre que as nossas sociedades estritas, em perpétua crise de consciência, se põem a duvidar de si mesmas, verificamos que se perguntam sobre se fizeram bem em interrogar o seu passado ou se o interrogaram bem." (1) Este "exame de consciência" leva-me precisamente a uma "inquietação" parecida com a que Marc Bloch descreve no seu livro, porque eu própria me interrogo: Quais as causas do desastre? Acaso a nova História terá sido bem interrogada? Eis porque completo o meu trabalho com fotocópias do passado recente, e do presente, patentes da minha atenta e sofrida vivência histórica.
Hoje que, pela primeira vez na História da humanidade, nos é dado viver em directo uma guerra, através da televisão; hoje que temos computadores, que permitem ao mesmo tempo facilitar a vida aos homens, aos historiadores, nas suas pesquisas de dados, mas que também programam os alvos dos bombardeamentos e a guerra das estrelas, eis que se continuam a sacrificar vidas humanas! Acaso morreu este historiador, e tantos milhões de pessoas, nas primeira e segunda guerras mundiais, e em tantas outras, em vão? Toda a ciência, toda a tecnologia terá que ser posta em questão. Dizer não a semelhantes catástrofes! Este folhear de páginas dos jornais diários é origem de uma angústia existêncial que nos faz questionar todas as teorias do conhecimento e se acaso não estaremos, efectivamente, a caminhar para um verdadeiro corte epistomológico, em que se passará de um século de progresso para um obscurantismo não condizente com seres dotados de razão.
Já "Tucídides relaciona as migrações e as revoluções dos tempos passados com as condições da agricultura, do comércio e da navegação, e com os conflitos das classes sociais."(2) Com que devemos nós, hoje, relacionar os acontecimentos que estamos a viver? Foi o que tentei, numa perspectiva da nova História, fazer através dos jornais e das notícias da televisão e da rádio. Quase que podemos dizer: "Estive lá".
Pierre Nora também nos diz, acerca do "acontecimento e do historiador do presente: "Não há acontecimento sem os media. Pense no desembarque na lua: (...) viver este acontecimento em directo é mudar totalmente a sua participação na História." muda a "própria percepção da História." E ainda o mesmo historiador diz: "É o jornalista o primeiro a joeirar (...) são os jornalistas os primeiros a transformar-se em historiadores do presente." (3) Aqui fica. Trabalho de jornalistas, fotógrafos; recolha minha.
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Notas:
(1)- In «Introdução à História», pp.12.
(2)- In «História Económica da Grécia», introdução por V. M. Godinho, pp.17.
(3)- In «Nova História», ed. 70,pp. 46,53.

(continua)

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