No reinado de D. Fernando tomam-se medidas de desenvolvimento e publicam-se as Leis das Sesmarias. Mas não viria a ser feliz, pois o seu casamento com Leonor Teles e o envolvimento do Conde Andeiro, parece não ter agradado a todos os portugueses. D. Beatriz, sua filha, casa com o rei de Castela e Portugal fica sem sucessor ao trono. Quem viria a tomar o lugar do rei D. Fernando? D. João ou D. Dinis, filhos de D. Pedro e de Inês de Castro? Não. Seria o Mestre de Avis, filho do mesmo rei, que viria a ser D. João I, apoiado pelo Dr. João das Regras e D. Nuno Álvares Pereira.
Com o filme «Camões» (de Leitão de Barros), que, segundo o Dr. Félix Ribeiro, foi preparado com muito cuidado e seriedade, quanto às fontes históricas, poderia falar da conquista de Ceuta e de todas as viagens promovidas pelo Infante D. Henrique, que pertenceu a essa gloriosa dinastia de Avis. Da viagem de Vasco da Gama à Índia; de Goa, Damão e Dio, onde o vice-rei Afonso de Albuquerque viveu uma época de esplendor e de gloriosos feitos, tentando erguer o Império Português do Oriente; em como promoveu os casamentos entre portugueses e indianas.
Para além do seu amor por Dinamene, e da sua vida aventurosa, poder-se-ia visionar toda uma época da História de Portugal. Como viviam os nossos reis, nos "esplendorosos interiores do Palácio Real", e como era o Rossio no Séc. XVI. O Tejo as naus e caravelas. Como se continuaram as descobertas nos reinados de D. Afonso V e D. João II. E todos os enredos que originaram o Tratado de Tordesilhas (1494). Já se sabia ou não da existência do Brasil? Em como D. Manuel I continuou a gesta dos mares. Falaria de João de Barros, a quem D. João III doou uma capitania do Brasil.
E de Pedro Nunes, com a sua invenção do nónio, e as suas aulas universitárias, agora mudadas para Coimbra. Da "triste" chegada a Portugal do Santo Ofício, que logo inicia a censura (1540), através desse tribunal inquisitório, e se iniciam os primeiros autos de fé.
De como Paulo Dias de Novais chega ao rio Cuanza. Da regência de D. Catarina e, mais tarde, do Cardeal D. Henrique. De D. Sebastião feito rei quando atinge a maioridade. Do ano de 1570, em que Camões regressa a Lisboa, vindo do Oriente. Passados são cinco anos e é fundado S. Paulo de Luanda. D. Sebastião encontra-se com o seu primo, Filipe II de Espanha, para juntos se proporem tomar Alcácer-Quibir.
O grande desastre que podia ser visualizado através do recente filme de Manoel de Oliveira, «Non, ou a Vã Glória de Mandar", em que aparece a batalha de Alcácer-Quibir. A invasão de Portugal pelo exército espanhol; e a morte de Luís de Camões em 1580. Mas somente essas sequências fílmicas, para que se seguisse uma cronologia histórica através do cinema.
E, continuando quase linearmente essa História, eu escolheria «Frei Luís de Sousa» (de António Lopes Ribeiro), apesar de Alves da Costa considerar que o filme não passou de teatro filmado. No entanto, permitiria visualizar o drama que se viveu em Portugal com o regresso tardio de fidalgos que tinham participado na batalha ao lado do rei D. Sebastião. E como os portugueses sentiram o País ocupado por Filipe II de ESpanha, I e II de Portugal, visto e sentido na resposta do Romeiro que, à pergunta: "Quem és tu?" responderia: "Ninguém!". Era filipino e espanhol, Portugal dos fins do séc. XVI e meados do séc. XVII.
Com esta tragédia narraria o período que se seguiu, de domínio estrangeiro, que mais fácil tornaria de compreender a alegria da Restauração de 1640. Iria, em seguida às bobines cinematográficas e levaria para rodar «O Processo do Rei», de J. Mário Grilo.
Com ele, seria dado ver e narrar como D. Afonso VI sucedeu a D. João IV, através do golpe de Estado (1662) que fez terminar a regência de D. Luísa de Gusmão. Para logo, passados que eram cinco anos, o rei desafortunado ser desterrado para os Açores(1669), o qual viria a ficar definitivamente encarcerado (após o regresso) em Sintra, naquele quarto do Castelo, onde ainda hoje se pode ver o chão gasto de tanto o rei lá ter caminhado!. Viria a morrer em 1683, e D. Pedro II, seu irmão, ficaria com o trono e viria a casar com sua cunhada, Rainha D. Maria Francisca de Sabóia.
Chamaria a atenção para o discurso que Padre António Vieira faz no filme, quando no púlpito da igreja, durante uma cerimónia religiosa. Lembraria o papel desempenhado por este jesuíta como diplomata, ao serviço de Portugal, e a sua obra em favor dos Índios, no Brasil.
Nos inícios do séc. XVIII (1706) D. João V iria suceder a seu pai, D. Pedro II. Se não encontro, em cinema, uma fita que conte a vida deste rei esplendoroso, já em romance histórico temos o de Rebelo da Silva, «A Mocidade de D. João V», em dois volumes, datado de 1852. Júlio Dantas e Malheiro Dias também escreviam romances históricos, que vieram, alguns deles, a servir de guião cinematográfico, como por exemplo: «A Severa» e «A Ceia dos Cardeais» .
Mas o ambiente deste século "espectacular" poderia ser mostrado através do filme «Malmequer», de Leitão de Barros, que conta a história de amor entre "uma sécia e um peralta". Aí, segundo Félix Ribeiro, surge "o séc. XVIII com os seus ouropéis e as suas opulências, a sua frivolidade e o seu encanto, a elegância e a finura das gentes de qualidade (...) por entre renques de buxo e mármores patinados pelo tempo."
Seguidamente escolheria o filme «Bocage», de Leitão de Barros. Igualmente retratando uma época e os ambientes que este poeta sadino frequentou, baseado nos estudos rigorosos do historiador Gustavo de Matos Sequeira. Tendo nascido em 1765 e falecido em 1805, viveu no reinado de D. José, sob a governação de Sebastião José de Carvalho e Melo, de D. Maria I e de D. João VI.
Ora, efectivamente, este foi, para Portugal, um período iluminista que, para além do poeta Bocage, nos deu um Correia Garção, um Ribeiro Sanches (que escreveu «As Cartas Sobre a Educação da Mocidade», e o «Método para Aprender a Estudar Medicina», um Padre António Figueiredo, e ainda Luís António Verney (que escreveu «O Verdadeiro Método de Estudar»), Machado de Castro (que executou a estátua equestre de D. José I), ou Frei Manuel do Cenáculo e Tomás António Gonzaga, e tantos outros que fizeram o engrandecimento do País com a sua sabedoria e grandeza.
Porém, é curioso verificar que, apesar do desenvolvimento em todos os campos artísticos e literários, "o ensino passa a depender da Real Mesa Censória" em 1771. Faz-se a reforma da Universidade logo no ano seguinte, e promulgam-se leis sobre o ensino primário oficial. Quando se vive um alargar de horizontes a todos os níveis, que se pode constatar através da abolição das diferenças entre cristãos-novos e cristãos-velhos, e da concessão de "direitos iguais aos dos metropolitanos para os naturais da Índia portuguesa, também se vivem perseguições e desterros, que não só afectarão os poetas, como Bocage, mas o próprio Marquês de Pombal, assinado por D. Maria I.
Seria assim que eu continuaria a contar a História de Portugal através do cinema, e toda a problemática inerente aos períodos vividos por cada filme. Antes da prisão de Bocage também foi exilado Filinto Elísio, e Brotero. Em 1797 Bocage é transferido do Limoeiro para a Inquisição, e já poucos anos terá de vida. Assim como Camões morreu quando os espanhois ocupavam Portugal, também este poeta morre em 1805, um ano antes do bloqueio continental imposto por Napoleão.
(continua)
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