segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Do Sonho à Realidade

Teria sido em meados do séc. XVII que "o padre jesuíta Athanasius Kircher" (de origem alemã) inventou a lanterna mágica (ou óptica). Em 1643, "na sua obra ARS Magna Lucis et Umbrae," dava a conhecer "os princípios da projecção de imagens". Se já Leonardo da Vinci "dois séculos antes" tinha imaginado uma lanterna de lente convexa, que foi um passo importante na história da projecção de imagens, Ernest Coustet (in "Le Cinéma") afirma que o princípio da lanterna mágica havia sido descrito anteriormente por Roger Bacon.
O certo é que o sonho de todos estes homens foi prosseguido por outros, que o iam ampliando e aperfeiçoando, até que surgem os modelos familiares de lanternas mágicas de mesa, a que se deu o nome de Lampascope (construídas por Johannes Zahn). Estas são muito divulgadas no séc. XIX, quer como divertimento doméstico, quer como espectáculo. Mas às suas imagens não se aliava o movimento, e, por isso, havia a necessidade de se prosseguir, porque neste as imagens não são estáticas: sucedem-se umas às outras. É este movimento que os homens perseguem.
Então, Plateau, em 1832, inventou o Fenakistiscópio, e Simon Stampfer o Stroboscópio, ao qual Franz Von Uchatius (oficial austríaco) vai aliar as possibilidades "de projecção de imagens da lanterna mágica, numa primeira tentativa de reproduzir um movimento de uma figura projectada sobre um écran". Daqui, sem dúvida partiu um passo importante para a história do cinematógrafo.
E o sonho continua. Agora com Emile Reynaud, que, com o Praxinoscópio de projecção (1888), trazia para a rivalta os "desenhos animados". É "a partir do Zootropo que Reynaud contrói o Praxinoscópio". Este fabuloso artista "desenhava as fitas, uma a uma (...) historietas (...) com a duração de oito a quinze minutos". Ele próprio, para além de inventar e desenhar, manejava o seu projector de "pantonimas luminosas". A estas era preciso aliar a 'realidade'. Essa iria tornar-se possível através do "desenvolvimento da fotografia, descoberta por Nicéphore Niepce".
Entretanto, "desde a descoberta da câmara obscura, por Baptista della Porta, em 1553," e aliando-se os inventos no "campo da óptica, da mecânica e da fotografia", tinham-se percorrido mais de três séculos e meio de encadeados sonhos, que fizeram história e se iam tornando realidade, até à invenção do cinematógrafo de Lumière. Para que este fosse possível, tinham-se aliado trabalhos de diversos cientistas, como sejam: Dr. John Ayron (o Thaumatrope), Faraday, William-George Horner(o Daedalum, comerciado com o nome de Zootropo), Charles Wheatstone - "que dará um contributo para a fotografia em terceira dimensão, graças ao Estereoscópio"-, Brewster, Duboso,- que pretende obter "fotografias sucessivas de um movimento com o Bioscópio" - . "Sensação da vida" eis o que todos pretendiam obter com os seus inventos. "Colleman Sellers, com o seu Kinematoscópio (1861) consegue obter melhores resultados" que os anteriores sonhos concretizados.
Porém, será E. Muybridge, em 1880, que consegue com o seu Zoogyroscope, reconstituir o movimento. Faz sucesso, não só na América, mas também na Europa. Marey, fisiologista, inventa a espingarda fotográfica. Mas, não satisfeito com o projecto, leva por diante o seu sonho e obtém "outro tipo de aparelho fotográfico, o crono fotógrafo, para proceder à análise do movimento, (...) para os seus estudos de locomoção".
Outros homens estudaram proguessivamente estes fenómenos; por isso, poderão considerar-se como co-inventores do cinematógrafo: Birt Acres (construtor do Kineoptikon), G. Demeny (inventor do Fonoscópio), Dickson e Edison (inventores do Kinetoscópio, 1891). Então, será Eastman a lançar a invenção da película fotográfica, que permite ao Kinetoscópio funcionar "como uma slot-machine (introduzindo-lhe uma moeda)". Como síntese de todas estas pesquisas veio a resultar o "cinematógrafo dos irmãos Lumière", 'que encontraram a forma perfeita de filmar e projectar imagens em movimento (o seu princípio é o que ainda se mantém nas máquinas modernas).(...) O cinema de imagem real (...) iria tornar-se, de um dia para o outro, uma grande indústria'.
Entretanto, como era vivida essa realidade em Portugal? Acaso essas imagens "reais" não faziam sonhar os nossos homens com alma de artistas? Claro que sim. Desses sonhos nascerá o cinema português.

(continua)

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