Esta década mostrou que os esforços pessoais de algumas individualidades do nosso país permitiram a existência de uma cinematografia própria, caracterizadora da nossa História e da nossa vivência única.
Passado o período em que o Porto foi "a capital do cinema", com a sua empresa Invicta Film, (primeira) e a segunda já com estúdios e laboratórios, e uma "equipa técnica responsável pelo arranque da produção" vinda de Paris, e que aproveitou "os nossos temas literários, os nossos artistas, as nossas paisagens, os nossos costumes, - como «Os Fidalgos da Casa Mourisca», de Júlio Dinis, e o «Amor de Perdição», de Camilo Castelo Branco, de G. Pallu -, ou ainda a «Rosa do Adro», de Manuel Maria Rodrigues, ou «Frei Bonifácio», de Júlio Dantas, também por G. Pallu, em que é revelado o profissionalismo deste realizador, começavam as dificuldades de distribuição, Mas, mesmo assim, após várias realizações, G. Pallu produz, pela primeira vez, Eça de Queirós e o seu «Primo Basílio», "com Amélia Rey Colaço no papel de Luísa, e Robles Monteiro no papel de primo Basílio". Este filme, e ainda segundo Luís de Pina, "acabava por sofrer (...) o predomínio do literário sobre o narrativo." Mas, neste fim da década de 20, o problema que se punha era muito semelhante ao que actualmente se põe: os nossos filmes eram preteridos aos estrangeiros, ou seja, a produção nacional não é tão divulgada como a que vem de fora, considerada lucro certo. O que origina a queda de mais uma empresa e do sonho de Nunes de Matos.
Era o ano de 1931 e morria Paz dos Reis. Outro cineasta, porém, surgia em Portugal, e "estreava o seu «Douro, Faina Fluvial»: era Manoel de Oliveira. A vida é como um encadear de sonhos; uns dissolvem-se, morrem, mas logo outros se alevantam e prosseguem a caminhada.
Na Quinta das Conchas, numa superfície de trinta mil metros quadrados, mais iniciativas iam prosseguir. O Lumiar iria tornar-se símbolo da localização do cinema português. Inicialmente Cadeville Film, a Tobis Portuguesa (1932). Realizava-se por essa altura "o último filme mudo de longa metragem," (...) «Campinos», realizado e protagonizado por António Luís Lopes, que era cavaleiro tauromáquico no auge da sua carreira nos toiros. Este, antecedia o êxito que viria a ter o filme «Severa», de Leitão de Barros, protagonizado pelo mesmo cavaleiro. Mas, para que esta realização se tornasse possível, algumas modificações se deram.
Em 1929 apareciam novas distribuidoras portuguesas, entre outras a firma Mello, de que Leitão de Barros é sócio e "que estavam ligadas também à produção de filmes portugueses". Não podia esquecer que, paralelamente ao estabelecimento destas distribuidoras, abriam ao público novas salas de cinema, "construídas expressamente ou modificadas: o Condes, o Politeama, o Royal, o São Luís e o Tivoli", e outros cinemas de bairro.
Isto provava que existia o gosto pelo cinema, mas o público, durante longos anos, não tinha tido uma produção regular de cinema português; por isso, é que realço estas décadas em que, efectivamente, começa a delinear-se a necessidade de um cinema rico de bases técnicas e organizado como indústria financeira, para poder competir com os melhores filmes estrangeiros. E é isso que irá suceder neste período áureo do cinema português, que surge ligado a Leitão de Barros, António Lopes Ribeiro, Chianca Garcia e outros valores, como Jorge Brum do Canto, António Lourenço e Alves Costa.
(continua)
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