Eis o nosso, presentemente, Janeiro de 1991: "Tragédia de Chernobyl continua a matar!" Uma criança de 11 anos faleceu, vítima desta catástrofe nuclear. A criança que "foi quase tudo no ocidente (...) foi destronada (...) agora há uma certa distanciação em relação a ela". Eis que me interrogo. Que futuro? Não são as crianças tudo? O futuro? São estas próprias "incertezas (...) que atravessam o campo da produção historiográfica, porque o próprio homem está a deixar de lado valores éticos necessários à própria vivência e sobrevivência em sociedade." Índios guaranis suicidam-se. Possivelmente por falta de identificação própria, de um ideal. Tentam que seja recuperada a sua "religiosidade tradicional". Porém, a selva amazónica, em nome de interesses económicos e do progresso, continua a ser desvastada. E temos, então, "o ano mais quente desde há 140 anos"
Mas este quotidiano é revelador na utilização de máscaras, quer nas pessoas, quer nos animais. Hoje por receio de ataques bioquímicos, amanhã por falta de oxigénio respirável, porque os homens estão a "destruir" o planeta Terra que habitamos. Futuro incerto em Moçambique e em Angola. Pobreza, violência, "a desordem internacional num mundo cada vez mais interdependente."
"Mudam-se os tempos, mudam-se as ideias", e fala-se em que "nos finais da década dos anos 80 se fecharam 160 anos de História." Assim será? Contudo, há ainda quem julgue que (apesar das "ideologias que enformaram as últimas décadas" estarem esgotadas), "não são as ideologias deste tipo, mas os dinamismos criativos de pensamento, os universos éticos" (D. José Policarpo) que podem vir a influenciar a História. Esta é, de certa forma, a ideia fundamental que partilho, e que está presente em todo o meu trabalho. Do tempo sem tempo, em que os homens adoravam os astros, ao tempo em que (segundo Philippe Ariès) "o homem de hoje já não tem muito bem consciência do tempo", que tempo nos separa?
E voltamos à "escrita de outros astros", onde Eduardo Prado Coelho fala sobre "uma imagem do tempo que findou." Efectivamente, quando vivemos uma guerra que custa "mil milhões de dólares por dia" aos E.U.A., para a qual contribuem a Alemanha, a Arábia Saudita, o governo do Koweit e o Japão, "que já doou quatro mil milhões de dólares" e que considera uma contribuição de mais "dois mil milhões", verificamos que a História nova enfrenta uma "primeira cruzada da era tecnológica", que terá que estudar profundamente. Quando se morre no mundo de fome, eis que, assustadoramente, nos entram em casa números astronómicos de gastos com a guerra! O Vaticano não pode deixar de referir a presença "de Israel nos territórios ocupados, a anexação de Jerusalém".
E a esta, eu acrescento a de Timor, e a tomada do poder em Angola pela força e não pelo cumprimento dos acordos de Alvor; acaso encontrarei justificação para esta guerra? Terei que deixar a questão em aberto para que um novo historiador, quem sabe, Jacques Revel, "o inventor de um novo estilo", me responda.
Lisboa, Janeiro de 1991
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