sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

"A Nova História" (continuação)

Quanto ao historicismo, que teve como principais cultores Collingwood, Benedetto, Croce, e Leopold von Ranke, era tido como o conhecimento do espírito e acção do pensamento. Estes historiadores-filósofos eram de opinião que o conhecimento histórico é o conhecimento do que o espírito realizou no passado e, ao mesmo tempo, a reconstituição e perpetuação no presente. O historiador, através do seu pensamento, é que vai reconstituir o passado. Torna-se, então, uma História subjectiva, pois tem algo do pensamento do historiador.
Collingwood diz que o historiador tem que reconstituir o que se passou na mente dos seus personagens; o leitor ao ler, deve reconstituir o que se passou na mente do historiador.
Leopold von Ranke tenta reconstruir o passado e faz uma História essencialmente política.
Eis que, finalmente, me encontro, nesta minha 'viagem' no tempo, naquele momento da historiografia considerado bastante importante, e que, penso, mesmo 'ultrapassado', não se poderá ignorar ao estudarmos História: é o materialismo histórico que, baseado na dialéctica hegeliana, pretendeu elaborar uma teoria científica da História.
Esta concepção materialista da História não deve, talvez, atribuir-se exclusivamente a Marx e Engels. Quando Alexandre Herculano escreve: "os partidos representam os interesses das diversas classes" e quando afirma ser absurdo sujeitar "a ordem dos acontecimentos sociais às mudanças das raças reinantes..." (8), como homem de ciência e historiador, situa-se na linha de evolução e de revolução que conduz a Marx, assim como também a Guizot, que tinha já uma ideia bem clara da importância primeira da História económica e social relativamente à política. Estes historiadores provam que existia um esforço nesse sentido. O próprio Marx escreve em 1852: "não sou eu que tenho o mérito de ter descoberto nem a existência de classes na sociedade moderna, nem a luta entre elas. Muito tempo antes de mim, historiadores burgueses tinham descrito o desenvolvimento histórico desta luta de classes." (9)
Efectivamente Guizot tinha escrito: "antes de se tornarem causa, as instituições são efeitos; a sociedade as produz antes de ser por elas modificada; (...) a sociedade, a sua composição, a maneira de ser dos indivíduos, segundo a sua situação social, as relações das diversas classes de indivíduos...;(...) para conhecer as condições sociais é preciso conhecer a natureza e as relações das propriedades." (10) Eis que Guizot fala em relações de propriedade, Marx viria a falar em relações de produção. E dirá:"não é a consciência do homem que determina a sua existência, mas, pelo contrário, é a sua existência social que determina a sua consciência."(11)Por isso, esta historiografia marxista surge com um carácter inovador em que o homem será o 'motor' dessa mesma História, inserido num contexto social que a determina. Inovadora, também, é a sua nova perspectiva estrutural sob uma visão economicista e materialista.
Os modos de produção das sociedades, como o esclavagismo, o feudalismo, o capitalismo, levaram a que Marx e Engels vissem a História como uma permanente luta de classes. Oprimidos e opressores travavam, através do tempo, lutas que, mesmo desiguais, levavam a uma alteração de estrutura que teria por fim a extinção de 'classes.' Uma sociedade sem classes, ou o comunismo científico, era o objectivo proposto por Marx.
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Notas:
(8) - Carvalho, J. B. de, «Da História Crónica à História Ciência», Herculano, A.,in: «Cartas sobre a História de Portugal», pp.94/97/99.
(9) - Idem pp.103.
(10) - Idem pp. 91, in: «Essais Sur l'Histoire de France», pp.61.
(11) - Idem, pp.107, in «Etudes Philosophiques» de K. Marx e Friederich Engels, Paris, 1968, pp.151.

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