domingo, 15 de janeiro de 2012

O Cinema Português - Problemático? (Introdução)

Introdução

Porquê fazer um trabalho para Problemática da História de Portugal, sobre o cinema português? Na verdade, foi-se-me deparando a ideia à medida que, cada dia na Cinamateca, ia descobrindo um mundo novo para mim. Aquela casa, as suas belas paredes e escadarias, o seu Museu, a sua biblioteca, estão repletas de História apaixonada por essa arte tão jovem, que é o cinema.
Mas, aos poucos, fui verificando que, ligados a essa paixão, estavam, de uma maneira geral, sentimentos e ideais de liberdade e uma grande perseverança, que levou todos esses homens a erguer do sonho o cinema português.
Como cheguei eu, este ano lectivo, até esse sonho? Através da descoberta do poeta Castro Alves. Aquele que escreveu o «Navio Negreiro» e as «Vozes de África», e que, segundo Manuel Bandeira, deu um enorme contributo para "a campanha contra a escravidão." Com toda a sua veia poética, ele escrevia "cantos (...) para serem declamados na praça pública em teatros ou grandes salas - verdadeiros discursos de poeta-tribuno."
Ora, na ânsia de querer saber mais sobre o poeta, venho a ter conhecimento de um filme, inspirado na sua vida, e no seu romance com Eugénia da Câmara, realizado por Leitão de Barros. Vou completar a investigação para a Cinemateca sobre aquilo que me levaria até mais próximo destas figuras.
Afinal, ele havia amado uma mulher portuguesa, que o próprio Camilo Castelo Branco considerava ser "educada e culta,(...)e que punha em todas as suas palavras o cunho da inteligência." Se assim era, a história de um poeta brasileiro ligava-se à história de uma artista portuguesa, que, ainda por palavras de Camilo, também era "poetisa de bonitos versos e tradutora."
Queria conhecer esse filme. Sofri, escusado será dizê-lo, um decepção. As críticas ao filme eram desfavoráveis, e este só tinha estado três semanas em exibição no cinema Tivoli. Pensei, então, como era difícil realizar um filme! Dois anos e meio de trabalho de actores, técnicos e orientadores, acabaram por estar no écran tão puco tempo? Qual teria sido a causa do seu "fracasso"? Uma co-produção implica dificuldades de linguagem, de culturas diferentes, de adaptação de uns artistas aos outros, da sua própria escolha? Penso que sim. Quando vi que a personagem de Eugénia era representada por Amália Rodrigues, pensei que não se coadunava, nem em parecenças físicas, - porque Eugénia não era uma 'bela' mulher, como surge Amália no filme -, nem psicológicas. Assim como Paulo Maurício não se parecia com o poeta. Para que essa 'essência' fosse transmitida, não teria que ser dada uma aparência semelhante? Segundo algumas críticas, Amália canta 'demoradamente' durante o filme. Sequências menos felizes, que levam o próprio realizador a confessar "que não era isto que eu queria mostrar a vocês."
O certo é que este drama despertou-me para um conhecimento mais aprofundado do cinema português. Outro pormenor que me atraíu, já mais tarde, quando iniciei o estudo e a leitura da história do cinema português, foi, de facto, verificar a mudança de Leitão de Barros para um tema tão delicado como a escravatura. Pois, segundo me foi dado analisar, apesar de os seus filmes serem documentais e numa perspectiva histórica portuguesa, em nenhum deles sobressai tanto o cariz político como neste. Ou seja, um filme que, apesar de não ter sido uma obra conseguida, é, em todo o caso, uma amostra dessa vivência que foi a escravatura no Brasil, e que também se verificou em Portugal e na Europa. Seria que este realizador também estava do lado desta causa? Ou seria só pelo aspecto histórico da vida dos três poetas, - Camões, Bocage, Castro Alves -, que este filme vinha completar? Para todas estas interrogações ainda não encontrei resposta.

(continua)

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