Deixaria de haver o capital, ou mais valia, na posse dos burgueses capitalistas e o proletariado seria extinto. Uma 'tese' (baseada na dialéctica de Hegel), que seriam os factores de produção, a terra, a oficina, o comércio, etc.; a 'antítese', que seriam as relações de produção, a mão de obra, os assalariados e os seus conflitos laborais que, entrando em confronto, levariam à 'síntese': revoluções que alterariam completamente as estruturas. Esta visão global da História, incluindo o factor económico como determinante nas sociedades dos homens, terá um papel inovador, indo contribuir para o aparecimento da História nova, pelo papel de destaque que Marx e Engels dão ao homem na sua totalidade. À procura das transformações do homem, através da filosofia, Engels propunha:(...) "as causas finais de todas as transformações sociais e revoluções políticas, devem procurar-se, não no cérebro humano, não nos critérios humanos àcerca da verdade eterna e da justiça, mas nas transformações quanto aos modos de produção e de troca. Devem procurar-se, não na filosofia, mas na economia de cada período determinado." (12)
A noção de conjuntura e de estrutura estava proposta, a teoria materialista de História transformava Marx e Engels nos principais percursores da História Nova.
Eis-me chegada desta 'viagem' no tempo, a um tempo em que irá surgir a "morte, enquanto investigação, do tempo unidimensional." Repouso, enfim. Pouso a minha máquina do tempo em que me foi possível retornar à antiga Grécia e conhecer os primeiros mestres historiógrafos, deixo de lado talvez o quinhão de poesia, e torno, então, aos verdadeiros percursores desta História nova, porque não quero penetrar nestes magníficos tempos historiográficos sem recordar mais uma vez aqueles que foram tornando possível o estádio actual. As concepções da História do séc. XX resultam de um longo processo de tranformação operado a partir do Renascimento; porém, a base deste movimento cultural assenta na antiguidade clássica. Eis porque fui tão longe para falar da História nova.
Políbio já conhecia a História como universal e aplicava ao seu método as interrogações: Como? Porquê? Esta é uma visão eterna e moderna da História.
Não queria deixar de referir, neste trabalho, Fernão Lopes (1459) que se propõe, nas suas crónicas, "só a verdade". Mas, efectivamente, foi no séc. XVIII que Voltaire chamou a atenção para uma História económica, como de costumes, técnicas, de todos os homens; assim como, no séc. XIX, Chateaubriant e Guizot, propõem, uma História em evolução e explicativa. Michelet apela para uma História material e espiritual; François Simiand torna-se percursor ao denunciar os três ídolos para os historiadores: o político, o individual e o cronológico. Marx, um dos mestres da História nova, com a problemática interdisciplinar de longa duração e os modos de produção.
Finda a referência aos percursores, eis que surge em cena, no contexto das correntes historiográficas, a História nova que vai, a partir da primeira guerra mundial, com o contributo de Henri Berr, e, seguidamente, a escola dos Annales, formar uma nova perspectiva de se elaborar História. Pretende explicar o homem na sua totalidade. Este é subjectivo. Eis que a História se irá tornar subjectiva; este, como "objecto", está em permanente mutação; então a História ir-se-á tornar num sistema sempre em aberto.
Numa primeira fase surge, em 1929, a Revista dos Annales d'Histoire Economique et Sociale, fundada por Marc Bloch (1886-1944) e Lucien Febvre (1892-1966), que irá tornar possível a síntese destes percursores, pois desta "escola" dos Annales é que virão, numa segunda fase, a sair discípulos como Fernand Braudel, Robert Mandrou, Jacques Le Goff, e outros, que aplicarão aos seus trabalhos teorias expostas e testadas por estes mestres, fazendo "nascer" uma nova História.
Vão utilizar a interdisciplinaridade para poder compreender o homem total, e não só na sua inserção nos meios de produção e relações sócio-produtivas. Surge uma nova concepção do tempo e da História, porque esta "apela" para a geografia, inserindo o homem num espaço. Recorre à antropologia, à sociologia, à psicologia e psicanálise; faz-se uma História quantitativa e serial em que a estatística tem um papel importante. O historiador "constroi" o facto, mas para "um dia de síntese leva anos de pesquisa." (13) Dá-se uma associação da História às ciências humanas, investiga-se o mundo, a totalidade social, numa interacção a diferentes níveis: económico, cultural e social. Faz-se a História comparada das civilizações. Vitorino Magalhães Godinho, nosso historiador, fará parte desta "escola" dos Annales. Fala-nos do tempo como factor histórico. Temos, então, o sincrónico (o simultâneo), que nos reenvia para o diacrónico (sucessão no tempo). Estático e dinâmico, mudança e continuidade. Não mais faz sentido uma abordagem da História só no plano sincrónico, como faziam os positivistas.
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Notas:
(12) - Engels, F., cit. in Patrick Gardiner, «Teorias da História», Teste de História, 12º ano, 1988.
(13)- Braudel, F., cit. in Carvalho, J. B. de, «Da História Crónica à História Ciência»,pp. 74.
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