Surgem, então, durante o séc. XIX, quatro correntes históricas: o romantismo, o positivismo, o hitoricismo e o materialismo histórico protagonizadas por historiadores como François Guizot, Alexandre Herculano, Tierry, Mignet, Thiers, Michelet, Auguste Comte, Marx e Engels.
Para Guizot o facto histórico não é apenas o acontecimento. Este dá um realce especial à História económica e social e relega para segundo plano a política, uma vez que considerava as instituições políticas como parte integrante da própria sociedade e esta devia, por isso, ser estudada primeiro, quer no seu particular, quer no geral. Já Guizot via na luta de classes o motor do progresso histórico.
Para Tierry também a História do povo anónimo estava em primeiro lugar: deixou de parte a História política e militar, pois considerava que "o progresso das classes populares era mais importante que toda a História dos reis." (6)
Aqui terei que fazer referência ao nosso historiador Alexandre Herculano, que seguiu Tierry quando se insurge contra a História das classes reinantes. "A biografia dos indivíduos não pode caracterizar a História da sociedade." (7) Considerava que a burguesia estabelecia um traço de união entre o pobre e o nobre. Dava, por isso, importância à classe burguesa da altura, que considerava o motor dessa mesma sociedade. As questões políticas de classe sobrepõem-se, em Alexandre Herculano. Na opinião de Guizot, a historiografia estava em crise e a sua produção era quase nula. Escreviam-se memórias dispersas. Então, estes historiadores que, como Guizot Tierry e Mignet, eram jornalistas e políticos, vão dar importância aos aspectos sociais.
Após esta crise, coube, de facto, a estes historiadores liberais e românticos ampliarem e renovarem o campo da investigação histórica. Impõe-se o carácter científico; quanto ao método e objecto da história alarga-se. O historiador vai dar igual valor aos aspectos políticos e sociais, ideológicos e económicos, por ser o conjunto destes factores que forma a civilização.
Michelet é considerado o percursor da concepção da História total. Considerava-se "iluminado" pelo passado, que olha de uma nova forma. Novos conceitos são estabelecidos para se compreender melhor a alma nacional, uma vez que cada civilização tem características próprias, que só se compreendiam integradas num processo evolutivo, no qual se desse igual importância ao passado e ao futuro. Nesta visão histórica romântica, a cada época corresponde um determinado valor, e consideravam que teria sido na Idade Média onde nasceu a alma de um povo. A estes processos nacionalistas de análise histórica eram aliados métodos intuitivos que lhes permitiam captar a realidade concreta.
Também os românticos possuiam uma visão educativa e integral da História. Contudo, aquilo que Vitor Hugo dizia acerca deste período - "o romantismo é a liberdade na arte" - liberdade essa que se verificava também nas novelas de Balzac e Stendhal, irá conduzir a que a historiografia romântica seja como um "romance" do passado, mas já sem as características da História, crónica e narrativa de batalhas e guerras, dos feitos dos generais, de um grande homem.
Na segunda metade do séc. XIX surge, nesta minha 'viagem' pelo passado e pelas diversas formas de fazer História, uma corrente ou tendência positivista, que vê na História uma ciência exacta. Auguste Comte seu principal impulsionador, defende que seja possível aplicar ao estudo da História as mesmas leis pelas quais se rege a evolução biológica. É possível elaborar leis, ter um objecto e método definidos. O historiador deve, primeiro, determinar os factos e, em segundo lugar, estabelecer as leis.
Mas estas leis eram obtidas através da persepção sensorial e da generalização dos factos através da indução. A História universal é posta de lado, os factos deixam de ser estudados dentro de uma conjuntura. O papel do historiador tornou-se passivo, pois o sociólogo (Auguste Comte fundou a sociologia como uma ciência) é que interpreta os factos, e as próprias leis são estabelecidas através da sociologia. É uma História de curta duração, sincrónica, onde não se estuda a História total, mas sim o acontecimento. Aplicavam os métodos das ciências da natureza à interpretação da História: fora dos textos não havia História pensável. Assim, para os positivistas, fazer História consistia em abstrair do facto os seus conhecimentos, por isso, o historiador não constrói a História mas "redescobre-a". Recorriam a três ciências auxiliares da História: a paleografia, a filologia e a diplomática. faziam uma crítica histórica que se baseava numa crítica interna e externa, de forma a obterem a exactidão do facto histórico. O que acontecia era que só podiam fazer uma História episódica, onde não existia qualquer articulação das rubricas em relação umas às outras. Ficam ao nível dos acontecimentos artificiais, como observadores indirectos, e são a favor de uma História política tradicional(os grandes acontecimentos).
_____________________________
Notas:
(6) - Carvalho, J.B.de, «Da História Crónica à História Ciência»,pp.89.
(7) - Idem. pp.94/95
Sem comentários:
Enviar um comentário