Esta mudança de objectos permitiu que a nova História fosse melhor aceite pelo público. Mas esta aceitação terá que ver, possivelmente, também com o papel desempenhado pelos "mass-media", que, segundo Michel De Certeau, "ocupam hoje em dia, em grande parte, o lugar que a História tinha no séc. XIX."(18) Certamente que os jornais e os audio-visuais divulgaram de uma forma didáctica, e ao mesmo tempo divertindo, esta nova História. Talvez aí resida o seu sucesso, que, não só no seu adoptar de temas parcelares, ou novos objectos, os próprios historiadores quase que substituem "os romancistas como testemunhas do real." (19) A televisão contribui para a actualidade histórica com as suas reportagens que dão imediatamente a imagem dos acontecimentos "em países longínquos, como se a distância do tempo fosse substituída pela do espaço."
Porém, apesar de todas estas alterações e inovações no campo das novas técnicas visuais e informáticas, a História nova é, segundo J. L. Goff, fundamentalmente científica e mesmo universitária,"(20) apesar de não ser, segundo parece, esta a mais divulgada, mas sim aquela que é preparada pelos "especialistas" (não científicos) da televisão e das revistas ditas históricas, mas que permitem, segundo Emmanuel Le Roy Ladurire, aos historiadores científicos "penetrar nesse imenso mercado mesmo modestamente." (21)
Todo o processo evolutivo mundial leva a repensar a História hoje, e tudo parece ser posto em questão. Sucedem-se os debates, e os critérios quanto à sua especificidade são postos em questão. Os próprios historiadores se interrogam e se questionam conscientemente àcerca da possibilidade de a História ser possível como uma "ciência pura." (22) E porquê? Porque talvez esta só fosse possível numa perspectiva sincrónica da História. E então tornamos a verificar o gosto pela análise do acontecimento, em que se dê uma tomada de posição por parte do historiador. mas será isto possível? Penso que não, porque os documentos que traduzem os acontecimentos, sabem-no os novos historiadores, "são produto duma certa orientação da História,"(23) ao qual deve ser feita a crítica.
Talvez o progresso, que trouxe a informatização, as guerras químicas e biológicas, uma tecnologia que ameaça a destruição do próprio homem, o faça repensar-se e pôr em dúvida esse próprio progresso. E então interroga-se, através da História: "Quem somos, donde vimos, para onde vamos?" (24)
A próxima batalha a vencer pelos historiadores é, por isso, dominar "uma História do presente," (25) para corresponder a essa necessidade premente de identificação. Mas como vencer esse desafio da modernidade, se ao historiador se deparam dificuldades inúmeras? E aqui cito, como exemplo, o acesso aos arquivos de Salazar, que ainda não estão à disposição dos historiadores, para os consultarem. Tal como estes arquivos não são acessíveis e estão condicionados por um período de um quarto de século para se poder pesquisá-los, muitos outros exemplos, possivelmente, poderiam ser citados. Por outro lado, a enormidade de documentos produzidos pelos media também coloca questões de análise e de abordagem ao historiador, que se depara, nesse campo, com outros especialistas, "politicólogos, jornalistas, sociólogos" mais vocacionados para uma história do momento.
São imensas as dificuldades e os desafios que se colocam à Hstória nova, "reencontrar o real", já não sob a forma de narrativa, de anais, de crónicas, mas tendo "ideias sobre o presente" e pô-las em prática, pois este êxito da História nova parece assentar precisamente "da abstracção do modelo" na pluralidade, na diversidade do real.
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Notas:
(18) - Le Goff, J. e outros, «A Nova História», ed.70, Apr. pp.12.
(19) - Idem, cit. Paul Veyne, pp.16.
(20) - Idem, Le Goff,J., pp.18.
(21) - Idem, cit. Le Roy Ladurie, E., pp.19.
(22) - Idem, pp. 33.
(23) - Idem, cit. Le Goff, J., pp.34.
(24) - Idem, pp.26.
(25) - Idem, pp.25.
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