"A História faz o historiador tanto quanto o historiador faz a História. Mais ainda: o exercício de historiar faz a História e o historiador." (b)
Introdução
"Nestes vinte e cinco anos pude estudar seriamente apenas uma época da história do meu país, e, ainda assim, ficaram-me obscuras mais de uma face do poliedro social." (c)
Alexandre Herculano serve de introdução ao meu trabalho para, desde já, reconhecer o quão é difícil realizar essa tarefa, que é fazer História. Também eu penso como Bayle, e mais tarde Fustel de Coulanges, que diziam ser " a mais difícil de todas as ciências".(1)
"Porque a História não é apenas uma ciência em marcha. É também uma ciência na infância: como todas as que têm por objecto o espírito humano (...) velha sob a forma embrionária da narrativa, novíssima como empresa reflectida de análise."(2) Ciente que me apoio nos conhecimentos que nos legaram esses árduos anos de pesquisa e análise dos vários historiadores, proponho-me falar e reflectir sobre as correntes que antecederam a nova História, para melhor dela dar uma perspectiva, visto que "uma das características da História nova é a de estar, ao mesmo tempo e igualmente preocupada com o passado, mesmo o mais longínquo, e com o presente mais imediato." (2.1)
Por isso, se eu pudesse viajar numa máquina do tempo, recuaria até à Grécia antiga e estudaria a sua forma de fazer história. Possivelmente também eles, como nós agora, apelariam a sua História de nova, porque esta não o será sempre em relação a uma anteriormente concretizada?
E quais eram as questões e as dificuldades que se punham ao historiador daqueles tempos e as que se colocam aos actuais historiadores? Porque "a história é filha do tempo" e "cada época fabrica mentalmente o seu universo", hoje "o historiador não é aquele que sabe, é aquele que pesquisa." É aquele que põe em causa as soluções adquiridas; que revê, quando necessário, os velhos processos."(3) O historiador, para além da capacidade de se interrogar, tem que ter o sentido de observação particular, saber descrever, contar, escolher ente "todos os materiais de que dispõe, todos os factos (verdadeiros ou falsos)" aqueles que merecem ficar para a História.
Este surge-me quase como um 'herói', que, com "o seu engenho"(3.1) parte em busca da significação, da verdade que o ajude a reconstruir os restos. Então ele é, ao mesmo tempo, tudo nesta nova forma de fazer História. Simples plebeu, pequeno, médio ou grande burguês, senhor feudal, nobre, de uma nobreza de linhagem (ou nobre no sentido que dava à nobreza Luís António Verney, e, essa sim, é inerente à vida de um historiador), rei déspota ou iluminado, ministro ditador ou apaziguador, bobo da côrte, operário, artesão, tudo ele é ao mesmo tempo, porque, penso que, ao historiador é exigida a maior ficção que alguma vez se pode realizar: aquela que nós designamos por História, mesmo que assente em bases científicas. É esse o processo de fazer História ao longo dos tempos de que eu irei em busca, verificando que "a diferença entre a História do presente e do passado não deve fazer esquecer um terceiro elemento que já não diz repeito ao objecto estudado, mas à perspectiva em que se faz o estudo, ou seja, uma 'historicização' da própria História."(4)
(continua)
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