terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Uma Ida ao Cinema (continuação)

Eis, porém, que quando Cyrano se afasta, encontra um frei capuchinho que lhe pergunta pelo nome da prima. Era uma carta que ambos entregam a Roxane. De Guiche marcava consigo um encontro, pela calada da noite, antes de ir para a guerra. Era assunto urgente. Que faz Roxane? Inventa outra mensagem, em que o frade deve casá-la de imediato com Christian. Promete-lhe uma grande quantia em dinheiro para o seu convento, e este propõe-se a casá-los. É, então, uma corrida! Acordam-se os criados, são precisas testemunhas para o acto. A aia é a madrinha. Põe-se um altar numa mesa improvisada, mas com toalha rendada e candelebros. Entretanto Cyrano, que sabia da missiva, tapa a face com um lenço vermelho e vai ao encontro de De Guiche, para o atrasar no caminho. O nobre senhor vem mascarado, acompanhado por dois músicos. Saltando de um muro alto, diz-lhe que vem de outro planeta. Vem da lua. Onde caiu? Um homem de cara preta? Estou na Argélia? Não! É uma máscara, responde-lhe De Guiche. Será louco? Diz ainda. Então estamos em Veneza! Onde vai? Encontrar-se com uma dama? Então estamos em Paris! Floreados poéticos, ricas metáforas são utilizadas, tudo para lhe impedir o caminho. Senão quando, De Guiche descobre que é Cyrano. Enfrentam-se; as palavras são duras e os gestos. São chegados à porta de Roxane. Porém, esta já estava casada com Christian. A revolta é tão grande, que De Guiche dá-lhes o mandado imediato de irem para a guerra.
O sonho é, agora, um pesadelo. As cenas são de apocalipse. Fogo, carros queimados, cavalos mortos, feridos e esfomeados. Christian quase desfalece de fome. Cyrano, fiel ao seu amor, escreve-lhe duas cartas por dia. Noite escura, atravessa as linhas inimigas para lhas enviar. Durante uma dessas aventuras, encontra a estola branca de De Guiche. De regresso vê os seus homens numa briga, porque todos querem um pouco de rato assado. Resolve, então, dizer versos e faz um flautista tocar. Um pouco mais animados, eis que ouvem tocar os tambores. Cyrano diz-lhes: joguem as cartas, os dados, eu leio Descartes. É o comandante que se aproxima, também ele com cor verde, de fome. Cyrano dá-lhe a sua estola, prova da derrota na batalha. De Guiche pega nela e vai desencadear novamente a guerra.
Christian descobre, entretanto, que o amigo escrevia sempre a Roxane, e como é profundo o seu amor por ela. Ele escrevia uma carta de despedida, que Christian resolve ser ele a entregar. Encontra-se no caminho com colegas, que tinham ido tirar pão aos espanhóis, enquanto estes ouviam missa campal.
Aproxima-se uma carroça, que tenta passar as linhas inimigas. Os guardas espanhóis que assavam um borrego, tentam impedir a passagem, mas eis que Christian e os colegas ajudam a salvar a situação. Espanto, admiração! Quem encontram a conduzir a carroça? É Roxane! A própria. Que lhes vinha trazer mantimentos. Conseguem fugir todos. Quem vinha com Roxane? Parece mesmo um sonho! Mas assim foi. O pasteleiro Rapeneau, bom amigo, trazia uma autêntica dispensa. Comida e bebida para todos, que - quem sabe? - permitiu ganhar a batalha de Arras.
Mas quem perdeu foi Christian. Verifica que o amor de Roxane é todo inteirinho para a alma de Cyrano. Já não é a sua beleza física que ela ama, mas sim aquele espírito tão dotado e merecedor de ser amado. Cyrano.

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