domingo, 11 de março de 2012

" A ESTÉTICA DA RECEPÇÃO E A CRÍTICA DA RAZÃO IMPURA" (conclusão)

Esta óptica da estética da recepção vai contra a possibilidade da obtenção da verdade, uma vez que esta se identifica com o invariável e o permanente. 
Diz-nos, então, a autora que o pensamento ocidental, racionalista e científico nunca aceitou bem o "acontecimento" porque este não é passível de medições ou de racionalização. Se o modelo estrutural foi o da forma e do espaço dos objectos, este será o da leitura integrada na conjuntura histórica que irá condicionar o sentido dado à obra. O sujeito fica, então, condicionado na obtenção do sentido da obra, não porque seja algo de transcendente, mas porque ele próprio passa a ser "um sujeito histórico", e a leitura corre o risco de se tornar objecto da metalinguagem. Então surge a questão: não teriam já os estruturalistas, no século XIX, proposto um sujeito neutro da metalinguagem e, ao tentarem a objectividade, a descrição da obra com um sentido emanente, propor mesmo um discurso positivista (no sentido histórico de Augusto Comte).
Também estes teriam denunciado, já nessa altura, que a obra não é portadora da verdade do autor. A estética da recepção, por sua vez, diz-nos que não é o crítico que decide e decifra a verdade da obra: procura a "origem" do seu sentido, através de múltiplas leituras e leitores (possíveis críticos), apenas constrangidos pela objectividade do autor, que hão-de dar vida e sentido aos espaços subjectivos.
Se numa "poiesis" a obra era uma realidade autónoma, e o sujeito seria pensado, por assim dizer, como um outro não implicado, numa "aithesis" dá-se o encontro do sujeito com o mundo, comprometido na constituição do sentido e por ele atravessado. Esta é a a experiência literária que Jauss preconizava "abalar os horizontes de expectativa do leitor", assim como tornar os estudos literários não tão preocupados na "explicitação da estrutura das obras", mas sim a terem como "figura central do seu discurso o homem e o mundo".
Segundo a autora, se à estética da recepção se ligar a teoria de Peirce, a psicanálise lacaniana e um pensamento de desconstrução, teremos uma crítica da "razão impura". Porém, conclui que não basta denunciá-la; é preciso empreender novas pesquisas, de molde a seguir o exemplo de uma estética da recepção, que, apesar de tudo, iniciou uma nova reflexão, um abrir de "brechas".


Lisboa, Abril de 1989

(Trabalho realizado, no 1º ano da faculdade, para a cadeira de Introdução aos Estudos Literários).

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