"ALGUNS ASPECTOS ACTUAIS DA LUTA DE LIBERTAÇÃO NACIONAL"
Este é um texto de cariz político, e foi proferido por Agostinho Neto numa conferência realizada na Universidade de Dar-Es-Salam, na Tanzânia, a 7 de Fevereiro de 1974. Datado no tempo, e dedicado a ser ouvido por professores e alunos universitários, é um texto elaborado, no qual Agostinho Neto fala em seu nome, da sua "experiência pessoal", e das suas "reflexões sobre a luta de libertação nacional" no continente africano. Experiência essa que se traduz na necessidade "do homem sobre a terra se considerar livre", e, por isso, ver a libertação nacional em África como pertença de um todo problemático que faz parte do mundo em que vivemos.
Porque "o isolamento é impossível e é contrário à ideia de progresso técnico cultural e político", Agostinho Neto expressa aqui que "os laços históricos que ligam os povos de África aos outros povos do mundo vão estreitar-se cada vez mais, pois que não pode haver outra tendência sobre a terra." E, continuando, apontava de imediato o problema que se punha nesse momento, que era o de "transformar as relações injustas e (...) de discriminação" sem cair numa "pura inversão dos factores intervenientes." Apontava este líder para a necessidade da "reestratificação das forças sócio-económicas dentro das próprias sociedades africanas, para possibilitar o progresso e impedir assim os interesses "imperialistas" mundiais, assim como a instalação de um possível neocolonialismo. Alertava também para as "formas de opressão" das minorias "étnicas ou linguistas, pelo desenvolvimento de classes privilegiadas e dotadas de um dinamismo próprio."
Logo de seguida, fala sobre a forma como cada africano sente o problema da colonização. Aqui expressa um "nós" para dizer que não estão ainda sintonizados quanto ao problema. Porém, classifica de imediato "a acção contra o colonialismo" como uma tarefa não de "carácter interno, mas sim universal", de molde "a que o homem seja realmente livre em cada país ou em cada continente do mundo," considerando que a forma de se encarar este problema era importante para determinar o procedimento a seguir no processo evolutivo da libertação. Processo esse que implicaria saber determinar: "Quem é o inimigo? O que é o inimigo?" e quais os objectivos que se propunham.
Ora a resposta a estas questões não são só "do desejo de ser livre", mas dependiam "também do conhecimento e da concepção do mundo e da vida" e "da experiência vivida." Serve-se, então, da sua própria experiência, para elucidar professores e estudantes que o escutavam e diz-lhes: É ideia geral que Angola é colonizada desde 1482 pelos portugueses, mas estes levaram "séculos para conseguir impor o seu domínio político e económico a todo o povo. Também não é verdade que Angola seja dominada apenas por Portugal; (...) em Angola estão em jogo os interesses políticos e económicos de várias potências no mundo.
Portugal era como que "potência administrante" de interesses variados, em que se salientavam os enormes volumes de capitais investidos pela Grã-Bretanha, e os de posição estratégica por parte dos E.U.A., Europa e Ásia. Todos concorriam para "a exploração dos bens que lhes pertenciam." Sem essas potências, Portugal já teria sido confrontado com uma "transformação radical." Por isso o líder afirmava que Portugal "não é o inimigo principal", mas apenas o inimigo directo. Era como que um elo frágil das grilhetas que dominam os povos.
Nesta altura, os próprios portugueses se sentiam como que manietados. E a sua questão mantinha-se de pé. Também o inimigo não pode ser considerado pela cor da pele, e, então, expõe a problemática de o próprio colonizador, sendo branco, ele próprio ser engrenagem do sistema. Por isso, achava que o "fenómeno da opressão colonial ou neocolonial" não se podia "pôr a nível da cor dos indivíduos". O sistema explorador era o mesmo, quer em Portugal, quer em Angola.. E expressava que "entre o homem português e o homem angolano, ou moçambicano, ou guienense, é possível o estabelecimento de relações justas, isto é, de relações que impeçam a exploração de um homem pelo outro homem".
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(continua)
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