quarta-feira, 7 de março de 2012

O Segundo Modernismo em Portugal (continuação)

O autor reforça a sua tese de que não foram esteticistas nem formalistas, com excertos de artigos publicados por aquele que foi considerado "crítico oficial da Presença, João Gaspar Simões, ao qual tece elogios. E apesar de lhe reconhecer lacunas, descreve-o como um homem independente e corajoso, "que não poderá ser esquecido na História  Literária Portuguesa". «As ideias circulavam livremente», continua E. Lisboa, mesmo entre os dois principais directores. J. Gaspar Simões daria "primazia à intuição sobre a razão", Régio possuía "uma organização intelectual compatível com uma carreira científica". Outro colaborador, José Bacelar, era também de opinião que, "o artista só deve seguir um caminho: aquele que o seu génio interior lhe impõe." Continuando a expor a sua tese, apoia-se igualmente em textos de Adolfo Casais Monteiro: "julgar uma obra pelo critério de perfeição (...) equivale a condená-la." Porém, depois de todos estes exemplos, o autor concluiu que "os valores formais eram tidos em conta por estes colaboradores da Presença, que acima de tudo pugnaram por uma "literatura viva", assim como "por Modernismo aberto lutou a Presença." 
E, continuando, compara a Presença ao grupo francês N.R.F. e diz que também "a gente da Presença (...)  era mais inclinada a perguntar do que a responder". Tal como o N.R.F., a Presença defendia igualmente a "originalidade do génio interior do artista." Existia assim, segundo E. Lisboa, um "solo comum aos presencistas - um amor genuíno à arte como arte - liberdade interior e uma vocação pedagógica evidente."
A Presença, como nos diz o autor, "tratará da arte em geral": a música, onde tem realce António Lopes Graça e Luís de Freitas Branco; a pintura, com Amadeo de Sousa Cardoso, Mário Eloy e Almada Negreiros; o teatro, com Alfredo Cortez e Régio; o cinema com Manoel de Oliveira. A esta arte serão concedidas honras primeiramente pela Presença, que ajudará à projecção cinematográfica. Exposições, edições, concertos e conferências literárias eram organizadas pelos jovens de Coimbra, aos quais se juntavam os "Mestres de Lisboa".
Contra as acusações de que a Presença previligiava a crítica, e que as suas obras eram sobretudo psicologistas, defende que "a verdadeira crítica é um discurso vivo e criador sobre objectos, que são os livros - e nisso não difere da poesia ou da narrativa," assim como os "romances e novelas da Presença poderão ser sobretudo psicológicos, mas nada valoriza sistematicamente o romance psicológico." Contra todas as acusações que, ao longo do tempo, fizeram à Presença se revela o autor, neste seu livro, tentando contrariar essas críticas com argumentos que levem o leitor a elas não aderir, principalmente ao "ensaio célebre de Eduardo Lourenço", para que não se vá um "tanto servilmente  beber," ou incorra no "erro" e no "contra-senso". Propõe, o autor, que de devia fazer uma "leitura de um ponto de vista sociológico para investigar a suposta contra revolução." Diz então: "As revoluções e contra-revoluções têm data, e não é com olhos de depois que se pode medir melhor o impulso progressivo de uma e o élan retrógrado de outra." Porém, refere o que Eduardo Lourenço disse àcerca da Presença: "foi a geração mais literariamente consciente das gerações literárias portuguesas..." Por isso, "uma diferença não prova uma reacção e muito menos um contra golpe."
E. Lisboa acredita que é "mesmo no campo da linguagem que as diferenças se devem medir", ao contrário do que afirma Eduardo Lourenço. Diz-nos então que não é o facto de ser uma aventura ontológica que torna o Orpheu mais importante do que a Presença, por esta ser uma aventura psicológica. Considera que não é possível comparar a grandeza de um movimento com a de outro. "É mais justo falar-se" de que existe um "movimento pendular entre a 'aventura' ligada ao 'espírito juvenil' do Orpheu, que faz evoluir para um "compromisso" e uma "exigência criticista", representada pela Presença, apesar de o autor anotar que os presencistas "tinham consciência do que há de lúdico na arte, do que ela comporta de jogo e provocação;" porém notar-se-ia um "genuíno horror a 'modas'", o que tenderia para a cristalização, se a Presença não se tivesse deixado de publicar.
Quanto ao "que é ser modernista", Régio teria respondido: "é ter a intuição de novas riquezas do homem, eternamente existentes no homem, eternamente existentes nele, mas capazes de novidade por não terem sido descobertas até ao momento de o serem" (...) "o espírito é, assim, assimilável ao espírito romântico" (...) "ser modernista é ter personalidade" (...) "Para avançar não é preciso negar o caminho andado."
E, para melhor expressar as suas ideias, recorre a palavras de Eliot que dizia: (...) "as relações, proporções, valores de cada obra de arte são reajustadas em relação ao conjunto; e é isto a conformidade entre o velho e o novo." À Presença coube, segundo E. Lisboa, esse reajustamento, considerando que as palavras de Valery estão certas, quando diz: "Achar não é nada. O difícil é apropriarmo-nos do que achamos." "Ao próprio Fernando Pessoa", concluiu o autor, "repugnava, no fundo, o estardalhaço em que se viu envolvido e no seu próprio recolhimento confessava: "Atitude por atitude, a melhor, a mais nobre, a mais alta e a mais calma. Pose por pose, a pose de ser o que sou... a superioridade não se mascara de palhaço; é de renúncia e de silêncio que se veste." "Do Orpheu para a Presença não se caminha para trás, concluiu o autor citando o que dizia Guide: "As coisas mais belas são aquelas que a loucura sopra e a razão escreve."

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(continua)   

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