Preparar um texto para dar uma aula de Teoria da Literatura era o desafio. A aula estava prevista para o dia 13 de Maio de 1993. Não chegou a concretizar-se. Não me recordo o motivo pelo qual o trabalho não foi apresentado (já lá vão tantos anos!), mas o "rascunho", ou as linhas mestras da aula, três páginas singelas, foram entregues à professora. Foram entregues numa 2ª versão de escrita no que se refere às duas primeiras páginas que preparavam a introdução do texto em análise para esse dia. Hoje vou guardar aqui, a 1ª versão da abertura da aula, e depois, então, o texto da 2ª versão, esse sim entregue à docente. Vamos ao trabalho!
Aula de Teoria da Literatura
Introdução
(1ª versão)
Analisar um texto numa perspectiva de teoria da literatura é diferente da análise feita para uma aula de literatura? Esta questão se me tem posto. Afinal o texto em si, poesia ou prosa, não é diferente para uma aula de literatura ou de teoria. Devemos descrever ou interpretar o texto?
Ora, o que de facto tenho observado, é que a dificuldade em delimitar o objecto de estudo da teoria literária se prende com a própria dificuldade de delimitar o objecto da literatura, o que leva a que estas aulas se assemelhem muito entre si, ou que se confundam. Ambas partindo do mesmo texto, a teoria procura encontrar as bases do objecto literário. Então quais são as suas barreiras e diferenças?
A teoria pretende estabelecer leis universais que presidam à criação literária, ao contrário da literatura que não aceita leis nem constrangimentos?
Muitas vezes me interroguei em como dar esta aula. Será de Teoria ou simplesmente de literatura?
Queria algo mais do que a descrição do texto, ou a historicização das correntes literárias. De vos falar das escolas de Praga, da Alemanha, da França, ou E.U.A. e Inglaterra. Das teorias Pragmáticas, Simbólicas, Objectivas, Miméticas, ou Românticas.
Parece-me que nada se cria que tudo permanece. Falo-vos dos anos 60/70, ou dos 80 ainda, Das tendências, do que disse Jakobson, Tynianov, Todorov, Propp, Greimas, Jauss, Iser, Ingarden, Barthes, Genette, Hifaterre, ou Peirce, Kuhn, M. Masterman? Da passagem de "Poiesis" para a "Aithesis", ou de que maneira reagiram a tudo isto os filósofos que se importam com a literatura, a teoria, porque só ela nos dá o homem integral? E a filosofia tem como objecto de estudo o homem pleno, logo a literatura não lhes é indiferente, e aí temos o que escreveu Austin, e o o que pensa Derrida, Foucault, Gadamer ou Haidegger, numa busca da verdade, de criar algo de novo. Mas na realidade nós não criamos nada de novo. Nada, Nem sequer se critica aquilo que está fossilizado (caso da "aithesis"), que não é viável, e que mais não serve do que ser motivo de desinteresse da teoria, porque nos dá uma mensagem ultrapassada. Se o é, tem que ser colocada na prateleira da história, e servir para a ela recorrermos como pesquisa e ponto de partida para criar novas formas de encarar a teoria da literatura.
É necessário um abrir de brechas, e, esse abrir, só é possível se for aceite a nossa crítica e questionação. Se eu, ou nós, não nos interrogarmos, tudo continuará como até aqui. Não é isso que queremos, por isso, para começar queria dizer-vos que a aula esta aberta à crítica, e à interrogação. Eu própria me pergunto como lhe dar início?
(2ª Versão)
Para começar queria dizer-vos que a aula está aberta à crítica e à interrogação. Eu própria me interrogo como lhe dar início.
Todos nós sabemos que os formalistas se imbuiram da forma do texto, que se apaixonaram pela análise formal como se de um corpo anatómicamente palpável, mas que não lhe interligaram o conteúdo ou o ser profundo, a alma desse corpo - o texto.
Os estruturalistas também não esgotaram a justificação do literário, tal como os morfologistas ou os da corrente new-criticismo, como, aliás, seria difícil, porque desde Aristóteles que a problemática subsiste.
Mas se a literatura é algo de subjectivo, «lugar de invenção», será possível teorizar sobre esse terreno movediço esse "estranhamento"? No entanto a teoria da literatura não será "afirmação de uma metalinguagem", linguagem ela mesma, sobre diversas linguagens? E é isso mesmo que deve ser? Então colocaremos a literatura, em princípio, no improvável, e a teoria da literatura no provável, na técnica? Ou esta será uma conjectura? Penso que não. Mesmo que só ensinada como disciplina autónoma nos finais do século XIX, creio, que esteve sempre subjacente ao estudo da literatura.
"Etimologicamente o termo teoria vem do verbo theorein em grego que significa: observar, contemplar, inspeccionar. Mas com Kant o termo teoria adquiriu o sentido de um sistema de conceitos que visa dar uma explicação global a uma área do conhecimento." Então, teoria será, no sentido mais antigo da palavra, contemplar, inspeccionar, e no mais recente, em que encaramos a teoria da literatura como um sistema de conceitos, uma explicação global do objecto literário - o texto.
Nesta aula pretendo interligar o sentido grego do termo e o kantiano. Vamos juntos, contemplar o texto e tentar dar uma explicação global dele . Inovemos, é o desafio, e que a nossa curiosidade em conhecer seja sempre como "um vulcão".
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Nota ao leitor:
O texto que se segue, em análise, tem por base um outro texto de Herberto Helder, intitulado [(vulcões), assim mesmo, entre parenteses curvos], e pertence ao seu livro Photomaton & Vox, 2ª ed., pp. 125-126, Assírio e Alvim, Lx., 1987. Continuemos...
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