quarta-feira, 14 de março de 2012

PESTANA " O Grande"

"Pepetela, um construtor da angolanidade". Este é o título que Margret Ammann e José Carlos Venâncio escolheram para a entrevista que fazem a este escritor. Comecemos por ele.
Pepetela é um nome umbundo que, traduzido para português, ficaria em "Pestana Grande". Ora, o nome verdadeiro deste "construtor da angolanidade" é Artur Carlos Pestana. Assim, ao seu último nome acrescentou "Grande". Eu  diria Pestana, "O Grande". Angolano que se quiz "construtor". Por isso, começou por "construir" um nome para si próprio. E um nome umbundo. Pepetela.
A sua matéria prima são as palavras; os tijolos poderão ser as vogais da língua portuguesa, às quais junta as consoantes, traço de caneta a traço de caneta, para unir sem frinchas os tijolos, e levantar bem alto a "angolanidade". Ele é um "construtor" para Angola, talvez como o foram para Portugal alguns escritores de 1800. E assume que escrever é, para si, uma forma de estar no mundo, uma catapulta para a acção. Essa acção está provada na sua incansável carreira de "construtor" de uma Angola "Nova", com raízes míticas que se perdem no tempo.
É desse tempo ancestral que Pepetela vai em busca. E longa e paciente tem sido a caminhada. Senão vejamos: Em destaque, e iniciando, dão-nos os entrevistadores os romances: Mayombe (Lx.,1980),  Yaka (Lix.,1985)  O Cão e os Caluandas  (Lix.,1985), para, logo após, referirem o seu mais recente livro,  Luegi (Lx., 1990).
O "seu discurso romanesco", com a criatividade que lhe é própria, tornou-o no "mais significativo dos escritores angolanos". E significativo porquê? Porque constrói todo o trama narrativo na procura da própria angolanidade. Para que assim seja, aplica ao seu estilo formal um "plano histórico, real" que se tornam como que homólogos no romance. Porque o fará? Essa a principal interrogação destes dois especialistas.
É que os seus temas estão como que imbuídos de "uma ligação" ao desenvolvimento real" da sua "sociedade". Há na sua obra como que uma osmose, que pretende atingir do múltiplo o uno. Acaso o escritor sente a carga simbólica que sobressai da sua forma de escrever? Sim. É a pronta resposta. Inicialmente talvez não o estivesse, mas hoje aceita que assim é. De facto diz: "Nós estamos num país que se está a formar, que é muito diverso, e eu penso que a cultura tem que dar contas dessa diversidade, embora procurando uma certa unidade. Unidade da nação, que se está a criar."
Para a formação dessa cultura contribuiu com bastantes obras. Essas são recordadas neste encontro. Quais foram as primeiras a iniciar essa vida literária? Contos, Talvez dois "publicados na Casa dos Estudantes do Império";  outro "numa revista de Porto Alegre (Brasil), e ainda um numa revista belga"(do qual a memória já se esvanece.). Porém, são, tal como o conto As cinco vidas de Teresa, desse princípio da década de 1960, este último publicado na antologia Novos Contos d' África (Sá da Bandeira, 1962).
Neste período da Casa dos Estudantes ligou-se à geração de 50, da qual faziam parte Agostinho Neto, Viriato da Cruz e, mais tarde, Luandino Vieira. Eram tempos de Lisboa. De estudantes. A estes contos seguir-se-á a publicação de Muana puó,  Mayombe, As aventuras de Ngunga, A Revolta da Casa  dos Ídolos, etc.
Todos estes livros virão na sequência da procura do conceito de angolanidade? Esta é a minha interrogação. Porque os "especialistas" que entrevistam o escritor perguntam-lhe se este conceito, falado por quem está de fora do processo angolano, tem uma relevância especial para si. Naturalmente que sim. Apesar da sua abstracção. O que é? Alguém sabe o que é a angolanidade? Ainda, até hoje , não foi possível teorizar, definir. "Embora esteja patente na obra dos escritores angolanos". Durante muito tempo, ainda, irá prosseguir a busca.

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(continua)

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