sábado, 3 de março de 2012

IV - As Relações da Sociedade com os Jornais

Na intenção de contribuir  para a formação cultural dos leitores, têm os jornais contado com a colaboração dos nossos melhores escritores. Isso é-nos dado verificar quando sabemos que em Portugal os nossos escritores, de uma forma ou de outra, praticaram jornalismo e, através dele, se revelaram: uns como colaboradores, outros mesmo como jornalistas que depois se transformam em escritores a tempo parcial. Alexandre Herculano, Antero de Quental, Ramalho Ortigão, Oliveira Martins, Eça de Queirós, (que fundou em um jornal em Évora, onde ele mesmo se desdobrava a escrever todas as rubricas, mesmo aquelas que eram crónicas do Rossio, e que ele inventava como se realmente fossem de colaboradores em  Lisboa), Raúl Proença, o próprio Camilo Castelo Branco, colaboraram grande parte da sua vida com os jornais. Cesário Verde publicou quase toda a sua obra através dos jornais. Igualmente Raúl Brandão, com o seu estilo descritivo, praticou o jornalismo. Nos nossos dias temos imensos exemplos de escritores que são , ao mesmo tempo, colaboradores de jornais, ou mesmo jornalistas. Augusto Abelaira publica no JL o seu livro: O último animal que; Hélia Correia escreve igualmente a Fenda Erótica. Fernando Namora e Alexandre O'Neil colaboram nos jornais. E tantos, tantos outros. Verifica-se, como diz Fernando Dacosta, que há uma tradição literária no jornalismo português. No fundo, só começou a haver separação entre o jornalista e o escritor, a partir do momento em que a profissão foi organizada. mas esse cruzamento entre as duas escritas continuou sempre a existir,  (19) considerando, por esse motivo, que a crónica é muito importante em Portugal. Através destas crónicas circulam e germinam ideias que vão contribuir para a formação cultural dos leitores.
Nas entrevistas que efectuei para este trabalho, verifiquei que os jovens lêem pouco os jornais diários, procuram mais os semanários e os jornais de desporto e espectáculos. Porém referiram que é importante ler os  jornais, inclusivé  para se manterem informados de modo a terem mais facilidade na prova de acesso do 12º ano. Igualmente foi abordado o aspecto da imprensa não ser tão divulgada na província, e de não haver o hábito de leitura do jornal tão acentuado como em Lisboa. Todos referiram a importância da imparcialidade e seriedade do jornal, e concordaram no perigo que se põe quando os mesmos são manipulados por grupos de pressão e distorcem as notícias que podem "queimar" pessoas individualmente, ou mesmo grupos. Foi focado o aspecto do preço dos jornais, que desmotiva a sua compra, em virtude de, no presente, serem muito mais caros que antigamente.
Interessante foi, também, a referência ao jornal como forma de manter, sobretudo as pessoas da capital, em comunicação, uma vez que se vive mais solitário do que na província. Não consideraram  a licenciatura em Comunicação Social de primordial importância para se fazer um bom jornalismo.
O Professor Nelson Traquina co-autor do livro em que me apoiei, em parte, para elaborar  este trabalho, referiu na sua entrevista a importância da Licenciatura em Comunicação Social, para que se possa verificar e concretizar uma melhor qualidade dos jornais, assim como a importância de se definir o que é a notícia. É preciso compreender as mudanças da sociedade para não ser ultrapassado pelas próprias mudanças; daí a importância de um curso superior em Ciências Sociais e Humanas, uma vez que o jornalista não é um técnico. Apesar de reconhecer que há uma evolução que aponta para a melhor qualidade dos jornais, continua a pensar que o "quarto poder" ainda é frustrado em Portugal.
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Notas:
Junto com este trabalho foram entregues cassetes com as entrevistas gravadas: a uma jornalista do Diário de Notícias, ao Prof. Dr.  N. Traquina e aos jovens que responderam às questões colocadas. Não foram transcritas para a escrita, com excepção de algumas opiniões.
(19) - DACOSTA, Fernando, in entrevista ao JL, nº 87 de Março de 1987.     
  

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